O que vou lendo! - Trillium de Jeff Lemire

Umas das mais interessantes características de alguns autores de BD que trabalham para os Comics é a sua capacidade de se adaptarem ao canto para onde o mercado os chama. Podem começar por escrever no sector independente mas depressa aparecem no radar das grandes editoras como a Marvel, a DC, a Dark Horse ou a Image. São contactados e muitos optam por escrever personagens conhecidos como o Super-Homem ou o Homem-Aranha. Com certeza que existirão criadores que preferem a exclusividade de um ou outro lado da fronteira mas, regra geral, não se coíbem de explorarem os dois países. Muitas vezes ao mesmo tempo.

É o caso do escritor/desenhista canadiano Jeff Lemire que começou a sua carreira em obras como Essex County e depressa foi "pescado" pela grande DC para trabalhar na Vertigo, onde criou livros como The Nobody ou Sweet Tooth. Contudo, não contentes na "exploração" do talento do rapaz, decidem trazê-lo para o universo dos super-heróis onde escreveu runs muito aclamadas em títulos como o Homem-Animal e Superboy. Como um bom filho à casa torna, regressou à "seriedade" e ao independente (ainda que novamente com Vertigo) deste Trillium, uma obra de ficção científica com um forte cunho pessoal. 

Num futuro distante, uma doença senciente matou a maior parte da raça humana. A humanidade vagueia pelo universo e mantêm-se em contacto com outras raças. Num planeta distante, uma cientista vê-se confrontada com o dilema: destruir um povo alienígena pelos tesouros que têm e que podem salvar o Homem ou deixar-se levar pela compaixão e esperar que o universo recompense o seu altruísmo.  Na busca de uma solução bondosa envolve-se com a dita raça alienígena, com viagens no tempo e com a natureza circular e mística do universo. Trillium  é um projeto altamente idiossincrático para Lemire , explorando nestes temas as suas crenças e filosofias, ao mesmo tempo que visita soluções narrativas pouco comuns em BD. É uma obra fantástica e incrivelmente fácil de entrar, apesar da temática complexa. O autor brinca com o formato da BD, encontrando soluções curiosas para abordar os temas que se propôs a abordar. Algo que, à partida, afastaria o leitor causal seria o tipo de traço de Lemire. Chega a ser infantil, inacabado, o que, na realidade, é parte integrante do que tenta nos contar. Mas a capacidade narrativa do autor e o controle da qualidade de diálogos e texto  afastam-nos destes preconceitos. 

Esta foi uma das boas surpresas de leituras de BD este ano. Muito recomendável.  

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