Rapidinhas de Cinema – Jimmy’s Hall de Ken Loach e E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto

Jimmy’s Hall de Ken Loach


A história aconteceu na primeira metade do século XX. Um irlandês regressa à sua terra natal, uma década depois de a ter abandonado e depois de o sonho americano se desvanecer no rescaldo da crise económica de 1929. Mas Jimmy tem um passado colorido, de atividade política contra as mais fortes instituições sociais da Irlanda, a igreja e o governo, que neste país eram uma e a mesma coisa. Apelidado pelos poderes de comunista após abrir um salão onde se dança, canta e ensinam as artes e o pensamento. Um espaço para diversão e partilha de conhecimento. Neste regresso 10 anos depois, é incentivado a reabrir o dito salão, com as consequências esperadas. Esta é também a história do início do partido comunista irlandês, sendo Jimmy um percursor do movimento. Ken Loach agarra na história com clara simpatia pelo movimento dos aliados de Jimmy e desprezo pela igreja, governo e poderes económicos a eles associados. A realização é relativamente direta e sem floreados, cingindo-se à filmagem de eventos de uma forma que, não fosse o enfoque muito significativo e a simpatia clara para o lado de Jimmy, poder-se-ia dizer ser isenta. Um filme que vale muito pela informação que nos revela de um início de século conturbado e onde as ideias e ideais surgiam com força e relevância.

E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto

O documentário português centra-se na história do próprio realizador, enquanto é sujeito a tratamentos para a mitigação de uma situação clínica nociva: ser HIV positivo e sofrer de Hepatite C. Para além disso - e mais importante - é também uma história de amor. O documentário desenvolve-se de forma mais ou menos cronológica, colecionando vários episódios do ano de duração do tratamento, da sua relação, aqui e ali escolhendo contextualizar o espectador através do recuo no tempo para a sua adolescência. No meio escolhe também revelar parte da sua filosofia de vida, quer de forma implícita, quer explícita. As quase três horas de filme passaram-se com alguma dificuldade - um pouco de cortes aqui e ali poderiam contribuir para um todo menos desconexo. Mas, bem vistas as coisas e tendo em conta a temática e a forma como o realizador a escolheu contar, deverá ser esse o intuito. Este é tipo de estética que a mim não me apraz particularmente, mas existem momentos interessantes em todo o filme: a história de amor, a escolha de estilo de vida e uma presença enternecedora de animais. Acima de tudo, um filme que não é fácil, não pelos momentos que acima descrevi mas pelo acompanhamento do tratamento a que o realizador se vê sujeitado. 

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