Coleção Levoir/Público Marvel 2014 – 12.º Volume: Dr. Estranho

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)

Grau de acessibilidade: Fácil

Sai amanhã, Quinta-feira, dia 25 de Setembro, junto com Público e custa 8,9€

O Dr. Estranho, senhor das artes místicas da Marvel, é dos personagens mais antigos do catálogo da editora mas, de uma forma ou de outra, também dos mais difíceis de escrever e "vender".  Nascido das imaginações de Stan Lee e, principalmente, de Steve Ditko (ambos também criaram o famoso Homem-Aranha), cedo se revelou que a capacidade deste personagem vingar nas compras mensais dos leitores residia muito na qualidade dos artistas e menos na atractividade do personagem. Já neste blog escrevi várias vezes que nenhuma personagem é privada de potencial. Obviamente que o Homem-Aranha, pelas suas características, possui um potencial quase ilimitado. O Dr. Estranho, pelo contrário, sofre do síndrome do Super-Homem: é de tal forma poderoso que torna-se difícil nos identificarmos com ele e, por outro lado, convencer os leitores de que existe uma ameaça credível à sua vida. Claro que os mais talentosos e imaginativos conseguiam contornar o problema. Roger Stern e Mike Mignola são dois desses talentos.

O mundo onde o Dr. Estranho se movimenta, o da magia, quase não tem regras e limites. A "ciência" do obscuro é, por natureza, a arte do impossível, de tornar realidade aquilo que, de forma material, é difícil. Portanto, um personagem que, ainda por cima, é o Mago Supremo, um título intimidador e totalitário, carrega uma bagagem incontornável. Contudo, Roger Stern, escritor de BD bastante profícuo na década de 80, conseguiu fazer o que muitos não conseguiam há anos: tornar o Dr. Estranho interessante. Umas das suas contribuições passou por esta história, Triunfo e Tormento, onde não só se juntava ao talento de um Mike Mignola ainda em início de carreira (é o criador de Hellboy), como punha o mestre das artes místicas lado a lado do maior vilão do universo da Marvel, o eterno antagonista do Quarteto Fantástico, o Dr. Destino. Este encontro teria repercussões bastantes relevantes e duradouras para o segundo, ao revelar um lado mais "frágil" de um dos mais interessantes personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby (no Quarteto Fantástico, claro). 

Por outro lado, esta aventura revelava-nos o Mike Mignola como viria a ser conhecido uns poucos anos mais tarde,depois da criação de Hellboy. O lado místico e soturno que tanto se encaixa no universo mítico do Dr. Estranho estava particularmente bem talhado para as manias e inclinações deste desenhista.  E é maravilhoso quando isso acontece, principalmente no tipo de trabalho que é solicitado aos artistas quando estão em editoras como a Marvel e a DC Comics. Este é daqueles volumes desta colecção que facilmente se pega e aprecia.

Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.

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