O que é um homem bom? Qual o preço de se ser um homem bom?
Este soberbo filme responde a estas duas perguntas. Não de forma definitiva e filosófica, mas antes através do artifício da narrativa, do contador de histórias. Um homem, logo no início, é colocado numa encruzilhada. Ou vira para a esquerda ou então para a direita. A escolha de uma das direções afectará toda a sua vida. O que se segue é exactamente isso. As consequências da decisão. De uma boa decisão. Altruísta. Tomada tendo em vista os valores sobre os quais, aquele homem, sozinho na noite e num carro, construiu a sua vida.
Este primeiro filme do realizador/argumentista Steven Knight é um prodígio de argumento e realização. Contido. Hermético. Sintético. Apenas um homem dentro de um carro numa auto-estrada inglesa. Um homem que, freneticamente, procura evitar que todas as facetas da sua vida, familiar e profissional, caiam após a decisão que moralmente se sentiu obrigado a tomar. Uma vida inteira que se regeu pela bondade e respeito pelos outros é colocada em causa, não pela decisão mas antes por aqueles que não fazem parte dessa decisão. Por aqueles que têm dificuldades em perceber o alcance das ações deste homem. Ações de uma vida e não apenas esta que tomou, sozinho, no carro e na encruzilhada naquela noite.
Este poderia ser uma peça de teatro mas, (não) por acaso, é um filme. Os diálogos, os olhos, as emoções, os acontecimentos, são tudo. Os truques de câmara, a iluminação, são apenas usados de forma parcimoniosa para que a história flua, para que aquele homem bom nos revele as suas opções. Para que nos ensine que nada na vida deve ser encarado de forma leviana. Que cada palavra, gesto e ação contam, mesmo que magoem, mesmo que não magoem. É importante sermos bons. Mesmo que isso custe a nós e às pessoas que amamos.
E, já agora, muito dificilmente um "eu amo-te!" foi dito de forma tão pura, tão definitiva, tão verdadeira, como o é por este homem neste filme. Isto não é obrigatório, é essencial ver. Para que sejamos pessoas boas.
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