O que vou lendo! – Green Arrow vol. 4, The Killing Machine de Jeff lemire e Andrea Sorrentino

As críticas em relação a este volume de histórias eram boas demais para eu as descurar. Fiquei particularmente curioso quando se afirma que o que Lemire e Sorrentino estavam a fazer se assemelhava (em forma) a trabalhos iconográficos como os de Frank Miller no Demolidor. Este primeiro volume coleciona uma quantidade apreciável de números da revista mensal que conta as aventuras do famoso Oliver Queen e do seu alter-ego super-heroístico, o Green Arrow. Mas o que é que distingue estas histórias de outras para que recebam tão rasgados elogios? Na minha opinião, duas coisas: Lemire reinventa de raiz a mitologia do personagem (daí as semelhanças com Miller); Sorrentino é uma desenhista e contadora de histórias superlativa.

Nunca fui o maior apreciador do arqueiro esmeralda. Colecionei algumas das histórias mais iconográficas, como as de Mike Grell e de Kevin Smith, mas a maior parte da minha exposição ao personagem advém da participação do mesmo na Liga da Justiça e na impressionantemente boa série de TV que protagoniza (para quem não sabe, Arrow). Esta reinvenção do personagem no contexto do universo DC Novo 52 tinha acompanhado apenas na revista Justice League of America (Novo 52 é o nome que o novo universo DC tem desde que foi reiniciado do zero em 2011). Confesso que me tinha sabido a “mais do mesmo”.


O nome Lemire, por seu lado, não o afasto à partida. Respeito o trabalho deste senhor desde que li Sweet Tooth, The Nobody e a versão Novo 52 de Animal Man. Portanto, fiquei curioso quando tantos elogios eram direcionados para este novo trabalho. Foi uma bela surpresa, não tão grande quanto esperaria tendo em consideração o pedigree com que era comparado. Lemire pega em tudo o que faz o personagem e a mitologia funcionarem, destrói o supérfluo e introduz ou reintroduz temas, locais e personagens que fazem sentido à essência do mesmo. O escritor chega mesmo a introduzir elementos da série de TV sem contudo parecer “vendido”. Esta fórmula não é nova no mundo dos super-heróis mas, quando bem executada como aqui o é, funciona e reintroduz surpresa no prazer da leitura (vejam o trabalho de Jim Starlin em Warlock na década de 70, Alan Moore em Swamp Thing na de 80 e o já referido Miller). Por outro lado, existe o brilhante trabalho de Sorrentino, que constrói páginas de beleza estética e narrativa como muito dificilmente se encontra nos super-heróis. Nada aqui é convencional mas antes imbuído de fluidez narrativa e toneladas de inovação. Pitadas de surrealismo alucinogénio reforçam determinados momentos da história, ao mesmo tempo que o ambiente noir e urbano-depressivo são bem aproveitados pela desenhista para construir um quadro negro e empolgante. Em suma, leitura recomendada (ainda que não tão inovadora quanto mo venderam).

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