Pozitia copilului de Calin Peter Netzer (Mãe e Filho)

A história passa-se na Roménia e poder-se-ia passar em qualquer outro lugar do mundo. Não existe nela nada de específico de um povo ou de uma região. Apenas mais uma história que envolve a mãe e o filho, único, já adulto. Ambos parte de uma classe socioeconómica elevada, ela sozinha nos dias e focada num filho que já não lhe dá a atenção que julga merecer. Ele envolve-se num acidente de viação onde, inadvertidamente, atropela mortalmente um jovem, parte de uma família sem os privilégios da sua. Seguem-se os esforços da mãe para evitar que o filho seja levado à justiça - num apontamento sobre tráfico de influências tão similar ao do nosso país. Inevitavelmente ocorre o confronto entre as duas famílias, a que perdeu um filho e a que poderá vir a perder. E, numa maravilhosamente encenada última cena – daquelas que fazem com que o filme se justifique -, percebemos a totalidade do porquê do título.

Dizem que a cinematografia romena anda a dar cartas e a mostrar garras. Este filme parece-me prova exatamente disso. Não faço ideia se a HBO, o superlativo canal de TV estado-unidense que nos deu Os Sopranos, Guerra dos Tronos e The Wire, tem muitas sucursais pelo mundo, mas este Mãe e Filho é produzido pela que possui na Roménia. O selo de qualidade obrigatório a que o canal nos habituou perdura no além-fronteiras. Existe segurança no contar da história por parte de um realizador sem rodriguinhos mas objetivo, não clinico mas certeiro. Que deixa que o trabalho seja feito noutros lugares que não o floreado da camara, do mise en scéne ou da iluminação (e até gosto bastante quando estes três existem). O trabalho de força é feito pelo argumento, diálogos, atores e montagem. Existe, contudo, uma exceção. A cena já referida, a do final, onde simplesmente colocar uma camara no banco de trás de um carro e deixar a história ser contada transmite com clareza a mensagem. Às vezes a síntese é melhor que a análise e a desta cena é eloquente.


Um excelente filme que, uma vez mais, prova que não são necessárias robustezes estilísticas e conceptuais para termos um filme verdadeiro e complexo. Queria eu que outras cinematografias assim também o fossem.

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