Wes Anderson faz parte do naipe
de realizadores do qual automaticamente se reconhece um filme. Todos os
trejeitos e tiques estão lá. Os atores fetiche. Os enquadramentos. O tipo de
história. Este Grand Budapest Hotel é,
a meu ver e junto com Fantastic Mr. Fox,
do melhor que ele teve o prazer de fazer. Sim, porque é de prazer que estamos a
falar. Sentimos que um filme como este foi feito por Anderson socorrendo-se de
todas as boas lembranças que o tempo lhe deu. Uma sala escondida onde passava
tardes a ver cinema mudo. Uma casa aninhada num recanto chuvoso dos EUA, onde
passava tardes a brincar com as mil e umas miniaturas com que os pais o presenteavam.
Miniaturas de aviões. De comboios. De casas, estas a reprodução da grande onde viva.
Com estes pequenos mundos, arquitetava histórias e construía outros mundos,
estes maiores e sem a fronteira da chuva. Nestes pequenos mundos imaginou heróis
da TV ou do cinema, atores que admirava, e em volta deles erigia aventuras. Agora,
como adulto, verte essas lembranças e essas memórias e essas histórias para a
pelicula cinematográfica. E ainda bem. Para nós…
Que filme delicioso. Nota-se
imaginário na construção de cada milímetro de história, um imaginário recolhido
e acalentado pacientemente e ao longo de anos. Como não poderia eu sentir-me
bem, sendo que o amor que transparece por este tipo de ambiente é tão real
quanto o que nutro pela BD? (será que não há neste Grand Pudapest também um pouco desta arte? Não se parece um pouco com
o Tintin? Provavelmente é a minha
imaginação). O filme é nostálgico, sem ser antiquado. Quente sem ser lamechas. Como
estar junto da lareira numa noite de inverno. O filme é filmado como se de um épico
a preto e branco se tratasse, sem efeitos especiais computadorizados, apenas o
trabalho físico em cada cena. O mais importante não é a verosimilhança com o
real, mas sim com um real imaginado. Todo ele é estilo, mas com corpo.
A ajudar a Wes Anderson estão um impressionante
rol de atores e atrizes – que apenas podem ter cobrado uma pequena parte do seu
normal orçamento. Destes destaca-se o óbvio, Ralph Fiennes, que volta a mostrar
que é capaz de fazer muita coisa diferente. Impressionante filme. Quem me dera
que houvesse mais destes.
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