Uroki garmonii de Emir Baigazin (Lições de Harmonia)

Um dos críticos do suplemento de artes do Público, o Ípsilon, dizia que este era um filme com apuro técnico invejável para uma primeira obra, mas mantinha um distanciamento frio sobre a história.

Despacho desde já o elogio feito ao filme. Concordo na íntegra. A beleza das imagens estão, contudo, muito para lá de um mero distanciamento e profissionalismo estético na construção das mesmas. Existe arte aqui. Sublimação e cuidado na construção de cada decór, na escolha de cada iluminação. O diretor de fotografia e o realizador estão em sintonia na criação de um objecto de arte belo, onde mesmo o banal se revela divino. Não o divino de afastamento, mas divino de subjetividade. Não existe aqui um apuro que nos faz sentir distantes, não um belo que se limita a enaltecer o mundano, numa espécie de anti-realismo-francês. Sim, há beleza mas que surge como complemento e não como lavagem ou estética pela estética. Em suma, um filme de belos planos, belas paisagens, cuidada luz.

Em relação ao que nos faz sentir o filme, a história, já tenho de discordar do critico do Ípsilon – e a vida é assim, todos temos formas diferentes de ver as mesmas coisas. Existem silêncios, personagens quase vítreos no modo como se comportam, personalidades insondáveis a beirar a falta de assunto. Mas todas estão grávidas de intenção, corpo plenos de plano, desculpem a aliteração. Existe determinação na linha de história a que cada interveniente se submete. Desde o nosso protagonista, o jovem de famílias pobres sujeito a bullying (se bem que uso este termo com muitas reservas e quem vir o filme perceberá). Passando pelos bullies em si e por todos os outros alunos na escola que estão sob o mesmo jugo.


O que será que está a ser contado? Porque é que os polícias, que aparecem a dois terços da narrativa, agem como os jovens bullies da escola? Existe uma micro-história a ser relatada, exclusiva do universo do Cazaquistão, ou podemos, livremente, extrapolar para a nossa realidade? Que mistério esconde-se por detrás da intenção do jovem protagonista e, paralelamente, do seu Destino? Eu tenho a minha espécie de resposta. Gostava que me dissessem a vossa depois de verem este belíssimo filme.

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