La Grande Belezza de Paolo Sorrentino (A Grande Beleza)

Neste Blog não é costume dizer-se mal das coisas. Mas em relação a La Grande Belezza tentar evitá-lo é um exercício de contorcionismo. Acho que será mesmo impossível.

Vamos começar pelo que poderá ser positivo. A vida de uma certa classe em Roma é filmada de forma extravagante e carnavalesca, cor e movimento em parada pela película, os personagens excêntricos a seguirem-se uns aos outros num misto de fascínio e ironia. Isso não podia ser melhor exemplificado pelo longo início, a festa de aniversário do protagonista, o hedonista e suave galã de meia-idade que também é o realizador do filme. Numa longa sequência relativamente inócua é caracterizada a atmosfera da maior parte do filme (resta a dúvida se com ironia): o modo de vida do grupo ligada à “alta cultura” romana, deslocado do quotidiano da classe média. O autor, contudo, não é um apologista do hermetismo pseudointelectual - que tanto caracteriza a inclinação de certos círculos culturais portugueses. Isso é exemplificado em duas sequências que são dos momentos mais interessantes do filme. Primeiro, uma onde o protagonista, crítico de Arte para uma revista, se desloca a duas instalações de honestidade diametralmente oposta. Uma segunda, a história da filha de um velho amigo do nosso “herói” que faz strip-tease – uma outra forma de arte – por um motivo muito pragmático.

Infelizmente, estes são apenas momentos, retalhos num manto pouco interessante. O resto são alusões bem assumidas a La Dolce Vita de Fellini, surrealismos, metáforas e alegorias espalhadas amiúde para efeito desconcertante e “pseudo-estimulante”, um pedantismo e sobranceria sublinhado e assumido. Será essa a razão por que ganhou o óscar de melhor filme estrangeiro para este ano de 2014? Será que, para um estado-unidense, esta é a Roma que imaginam existir e este o tipo de filme europeu que certas elites gostam de gostar? Não sei e também não é muito relevante.


(A minha excessiva irritação também provém de um extraordinário filme como La Vie D’Adèle nem sequer ser nomeado ou Jagten - The Hunt - não ser o justo vencedor do Óscar).

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