Neste Blog não é costume dizer-se mal das
coisas. Mas em relação a La Grande
Belezza tentar evitá-lo é um exercício de contorcionismo. Acho que será mesmo
impossível.
Vamos começar pelo
que poderá ser positivo. A vida de uma certa classe em Roma é filmada de forma
extravagante e carnavalesca, cor e movimento em parada pela película, os
personagens excêntricos a seguirem-se uns aos outros num misto de fascínio e
ironia. Isso não podia ser melhor exemplificado pelo longo início, a festa de aniversário
do protagonista, o hedonista e suave galã de meia-idade que também é o realizador
do filme. Numa longa sequência relativamente inócua é caracterizada a atmosfera
da maior parte do filme (resta a dúvida se com ironia): o modo de vida do grupo
ligada à “alta cultura” romana, deslocado do quotidiano da classe média. O
autor, contudo, não é um apologista do hermetismo pseudointelectual - que tanto
caracteriza a inclinação de certos círculos culturais portugueses. Isso é
exemplificado em duas sequências que são dos momentos mais interessantes do
filme. Primeiro, uma onde o protagonista, crítico de Arte para uma revista, se
desloca a duas instalações de honestidade diametralmente oposta. Uma segunda, a
história da filha de um velho amigo do nosso “herói” que faz strip-tease – uma outra forma de arte –
por um motivo muito pragmático.
Infelizmente, estes
são apenas momentos, retalhos num manto pouco interessante. O resto são alusões
bem assumidas a La Dolce Vita de
Fellini, surrealismos, metáforas e alegorias espalhadas amiúde para efeito
desconcertante e “pseudo-estimulante”, um pedantismo e sobranceria sublinhado e
assumido. Será essa a razão por que ganhou o óscar de melhor filme estrangeiro
para este ano de 2014? Será que, para um estado-unidense, esta é a Roma que
imaginam existir e este o tipo de filme europeu que certas elites gostam de
gostar? Não sei e também não é muito relevante.
(A minha excessiva irritação
também provém de um extraordinário filme como La Vie D’Adèle nem sequer ser nomeado ou Jagten - The Hunt - não ser
o justo vencedor do Óscar).
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