Comic Con de Nova Iorque - Crónica Maxim

No último número da revista Maxim publiquei uma crónica acerca da minha mais recente ida à Comic Con de Nova Iorque, um evento que, pelo menos um vez, todos os fãs de BD americana deveriam poder ir. Hoje reproduzo-a aqui, agora que a revista já saiu das bancas há tempo suficiente e também porque hoje soube (depois de muita gente), que haverá em Portugal uma Comic Con só nossa, um evento que deve ser louvado.

Quem quiser rever todas as fotos que tirei pode dar uma olhada neste link.



Chegar à New York Comic Con é entrar numa gigantesca loja de brinquedos, especialmente feita para mim e para mais uma centena e meia de milhares de pessoas. Quando as portas ameaçam abrir já as filas vão longas de horas, amontoam-se fãs dos famosos personagens coloridos da Americana, esses superseres que fazem as delícias de tantos pelo mundo fora. Nesta convenção em NY não há reunião de vetustos intelectuais da BD, típicos de um ambiente cultural europeu. A celebração é colorida como um circo, exuberante como uma matiné no Moulin Rouge, mas com admiradores da BD americana. Nada é contido, tudo é sentido no âmago e ao exagero. E não pensem que por aqui apenas vagueiam homens gordos, sem namorada e com graves problemas de estética e higiene pessoal. Aqui. Há. De. Tudo. Porque isto é a América, a que fala alto, a exuberante, a infantil, a ingénua, incontida, a sem vergonha de assumir que... SIM... eu gosto de ler BD de homens vestidos de collants e mulheres vestidas com muito pouco. Há celebração e não contrição intelectual. Há intensidade e não vergonha geek. Quem acha que Comics são um fenómeno de uma minoria convido-o a vir à NYCC e a ser confrontado com esta gigantesca minoria. Quem, por um segundo (dos quais eu fazia parte), acha que os Comics são um fenómeno restrito a um pequeno número de pessoas ficará desarmado com as enchentes que pululam as ruas à volta do Javits Center de NY, com a avalanche de mascarados e não mascarados que, em rio, em torrente, entram decididamente nesta missa carnavalesca. Ninguém aqui se sente parte de uma minoria. Aqui todos são irmãos.

Todos vocês já devem ter ouvido falar do fenómeno que são os famosos cosplayers (abreviatura de “costume play”), fãs - e não só - que dedicam horas a costurar o fato de um dos seus personagens favoritos de BD, ficção científica ou Alta Fantasia, que o vestem dele e o exibem nestas convenções para quem os quiser fotografar ou, pura e simplesmente, admirar. E há muito que admirar! Primeiro, a dedicação! Segundo, a entrega ao personagem! Terceiro, a coragem em ser e gostar daquilo que se é, independentemente dos costumes! Aqui não há condicionamentos, contrições, não há espaço para provincianismos. Estamos em Nova Iorque, a capital da liberdade de expressão. Estamos numa convenção de BD, onde a excentricidade é senhora e rainha. Portanto, tudo é permitido e tudo é mostrado. Acreditem (ou vejam algumas das fotos que tirei)!


Sendo a terceira vez que me dirijo a esta convenção, tenho tido o prazer de a ver crescer ao longo dos anos, sendo hoje o segundo maior destes eventos em terras do Tio Sam (a maior – ainda – é a de San Diego, mas porque tem cinema à mistura). Com este crescimento vem uma dificuldade que, em Portugal, é difícil de ter: é impossível ver tudo. Existem os painéis, onde artistas e editoras apresentam os seus novos projetos, que são numerosos, e é impraticável ver todos. Existe o “artist alley”, um espaço para desenhistas e escritores, onde eles vendem esboços de corpo inteiro por 150 dólares (e há quem os compre!), onde vendem as suas mais recentes obras, onde vendem páginas desenhadas, originais, por 4000 dólares (e há quem as compre!), onde assinam originais em toneladas que os fãs lhes trazem. Existe o espaço de venda das infinitas lojas de BD, onde se encontra toda a espécie de pechinchas, numa quantidade de tal modo arrebatadora que, se um fã não for organizado, sai de lá esquizofrénico porque, verdadeiramente, não sabe por onde começar. É. Que. Há. Tanta. Coisa. E. Tão. Barata. Finalmente, existem os espaços das editoras de BD (e jogos de computador mas, sinceramente, nem olhei para eles – há que priorizar). Nestes, as responsáveis pela publicação das revistas que tantos idolatram organizam sessões de autógrafos, distribuem brindes, exibem novos projetos.



Por esta pequena amostra podem talvez perceber a dimensão desta convenção de BD. Tentei ser claro mas, às vezes, nem a hipérbole é suficiente para descrever este evento. Só mesmo lá indo.

Neste ano fui apenas a dois dos 4 dias, mas tive tempo para ver vários painéis. Um dedicado aos X-Men, outro ao Batman, mais outro ainda ao Homem-Aranha e por aí em diante. Para quem gosta, é uma delícia ver aqueles que criam os livros, que tanto prazer nos dão, a falar com o entusiasmo e com a entrega que pessoas que oferecem a sua vida aos homens e mulheres coloridos só poderiam dedicar. Ainda que existam aqueles mais contidos, mais comerciais, que apenas nos dão umas palavras banais, aparecem os outros que falam com amor e inteligência, que entregam mais do que o lugar comum, do que a frase sugerida pelo departamento de marketing – foi o caso de Peter David, de Scott Snyder e de Dan Slott, por exemplo, escritores para os universos dos X-Men, Batman e Homem-Aranha, respectivamente.

Esta convenção foi também tempo de perdição, de gastar mais do que deveria e de vir com a mala carregada de livros para atafulhar uma casa já a jorrar BD pelas portas fora. Mas o momento alto durou apenas alguns segundos. Pude comprar uma impressão original da Mulher-Maravilha (um dos meus personagens de BD favoritos) e tê-lo assinado por um dos meus ídolos, George Pérez, o escritor e desenhista que, há já mais de 20 anos, me fez gostar deste personagem. Para completar, ainda pude tirar uma foto junto com o artista e agradecer-lhe pelo que produziu. Por isso, e só por isso, já valeu a pena.


2 comentários:

Sara disse...

Eu acho que eu gostaria de fazer uma viagem como essa, mas eu preciso saber de outros lugares, eu acho que vai primeiro tentar encontrar um hoteis em argentina

SAM disse...

Ui, Argentina Provavelmente a minha próxima viagem, se a Ásia não me chamar primeiro.

Obrigado pelo comentário.