(Prometo tentar
informar aos menos conhecedores de BD acerca da acessibilidade desta coleção,
ou seja se é fácil ou não ler sem saber muito mais coisas)
Grau
de acessibilidade: Difícil mas…
Sai
amanhã, Quinta-feira, dia 10 de Outubro, junto com Público e custa 8,9€
Quando o escritor da
história publicada nos dois próximos volumes desta coleção decidiu avançar, o
editor-chefe da DC Comics teve apenas uma exigência: que a palavra Crise
aparecesse no título. Uma espécie de passagem de testemunho da primeira, a das Terras
Infinitas (já publicada nesta coleção), um rótulo com meras intenções
mercantilistas e nada ligadas ao cerne do que Brad Metzler quis contar neste seu
Identity Crisis. Metzler queria recordar (como muitos dos que escrevem BD) os
bons momentos de uma juventude passada a ler a revista Justice League of
America, especificamente os números publicados na década de 70 sob a batuta de Gerry
Conway e Dick Dillin, os dois mestres que publicaram algumas das mais
memoráveis aventuras protagonizando este importante grupo de super-heróis da DC.
De facto, quando se lê este Crise de Identidade tem-se a imagem de um
adolescente Brad deliciado com as vidas grandiloquentes do Super-Homem, Batman,
Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e tantos outros, ao mesmo tempo que a
mente criativa fervilhava com questões que qualquer um colocaria, mas às quais
conseguiu responder 30 anos mais tarde.
A grande diferença deste Crise
de Identidade em relação a outras sagas de super-heróis é estar estruturada em
volta da clássica pergunta de toda a literatura de crime, ou seja, “quem é que
matou?”. A história inicia-se com um crime hediondo, o assassinato de um amado
e conhecido personagem do panteão da DC. De seguida, despoleta-se uma enorme
caça ao homem levada a cabo pelos vários super-heróis companheiros e amigos da
vítima, ao mesmo tempo que, paulatinamente, são revelados segredos envolvendo
não só o Universo DC, mas também os membros ditos secundários da Liga da
Justiça: Arqueiro Verde; Canário Negro; Gavião Negro; Mulher-Falcão; Zatanna;
entre outros. Estes segredos reequacionam alguns dos eventos passados nas
histórias de Conway e Dillin, transferindo para um prisma mais adulto, com
todas as conotações, de senso-comum e não só, associadas ao novo ponto de
vista. Na altura da publicação, esta história foi alvo de muitas críticas
exatamente por ter assumido um lado tão negro destas histórias “inocentes” da
década de 70, mas o universo de super-heróis sempre se pautou por estas
reinterpretações do passado, já que estamos a falar de um mundo partilhado e
com um historial contínuo de 70 anos. De modo a preservar a novidade e a
frescura, recordações quentes da juventude têm de ser reavaliadas,
transferindo-as para o interesse de um público mais velho e, espera-se, mais
maduro. Nem todas estas reinterpretações funcionam mas, na minha opinião, a de Crise
de Identidade consegue, não só pela qualidade do escritor (que transfere-se sem
esforço da prosa para a BD – Metzler é escritor de romance de crime) mas também
pela apropriadíssima escolha de Rags Morales, que fornece toda a violência,
negritude e emotividade necessárias para carregar uma história desta natureza.
Não é, novamente, das
histórias mais fáceis de acompanhar por aqueles que conhecem menos do universo
DC de super-heróis mas, sobre isso e uma vez mais, chamo a atenção à nota que
coloco sempre no fim destes posts.
O primeiro volume da
história saiu no dia 3 de Outubro.
Nota – Não partilho da opinião que tem de
se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD
americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle.
Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno
esforço.
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