Lemale et ha'halal de Rama Burshtein (A Noiva Prometida)

Quem é que promete a noiva?
 
Uma família judaica ortodoxa de Telavive tem uma filha em idade para casar, a jovem Shira de 18 anos. Como é costume, o casamento é arranjado, ou melhor, prometido entre os progenitores do futuro casal. Mas um evento inesperado vai alterar o curso dos eventos, uma força superior arrastará os diferentes intervenientes para caminhos inesperados. Parece que estou a descrever uma telenovela mexicana, mas nada poderia estar mais longe do que este filme nos entrega.
 
Com pragmatismo cru, o realizador consegue transmitir, facto a somar a facto, uma perspectiva ao mesmo tempo realista e divina de um problema simples de uma pequena família. Aquilo que poder-se-ia encaminhar pelo comentário cínico acerca de comportamentos milenares considerados por muitos como anacrónicos, é subtilmente desviado para o campo não só do metafísico como também do social, numa mescla que outras mãos poderiam tornar perigosamente foleiro. O realizador consegue habilmente desviar a sua impressão, a sua opinião (ou pelo menos disfarçá-la), concentrando-se na sucessão de eventos e decisões dos diversos personagens que tentam, a todo o custo, perceber qual o caminho correto a prosseguir. Principalmente, a jovem Shira, maravilhosamente interpretada por Hadas Yaron, que se vê confrontada com um enigma que está para lá dos seus anos resolver. 
 
Quem é que promete a noiva? Quem é que, na realidade, nos cria o caminho? Serão as várias religiões diferentes iterações de uma mesma ilusão coletiva, ou algo mais poderoso? E será que, realmente, saber isso é importante?

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