Se só a Deus é permitido perdoar, para quem fica a tarefa de
castigar os impios, os impuros, os pecadores? Quem é o anjo castigador, o dedo
na pistola, a mão no punho da espada? E quem é que deve ser castigado? Aquele
que comete o crime ou aquele que é a causa da formação do criminoso? As perguntas
preservam-se no ar, sem resposta, um doce e amargo perfume iluminado pelo
vermelho, verde e azul, as cores primárias, que apontam o caminho no longo
corredor, ou melhor, no labirinto. Temos
obrigação de nos fazer valer pela nossa capacidade de discernimento, de julgamento, de
escolha, e não nos deixarmos envolver pela tragédia. Escapar a nós mesmos. Caso
contrário, o longo braço da lei, o corte definitivo da espada, esses
redentores conseguirão nos alcançar.
Nicolas Winding Refn não é uma realizador fácil e este Only
God Forgives não poderia ser dedicado a melhor pessoa: Alejandro Jodorowsky, o insano artista e autor de BD. Parece que
uma feira de verão, cheias de algodão doce, carrosséis, luzes
brilhantes, parece que uma dessas, bem garridas, tiveram um filho junto com David Lynch. E esse filho teve um outro
filho, este nas ruas da Tailândia, onde se passa a história (tragédia) deste
filme. Há um irmão que comete um crime hediondo e é assassinado justamente. Há
um polícia (o nosso anjo vingador). E há o irmão do primeiro, a quem a mãe -
uma mulher temível, um furacão saído de uma Las
Vegas de sangue e armas - obriga a vingar a morte.
Descemos às ruas de Bangkok,
para uma outra viagem, irreal, deambulando
pelo labirinto (outra vez?) da culpa e da redenção. Quem imaginaria que
se encontrariam temas tão cristãos nos karaokes
das ruas desta cidade, tão longe do Vaticano?
Quem são os personagens que se arrastam, inevitáveis, relógios, pelo
caminho traçado deste o primeiro frame?
Será mesmo assim? Não poderemos escapar a essa linha de raciocínio
que a genética nos teceu? Poderemos ser melhores seres humanos quando nos
questionamos todos os dias pelas decisões que são tomadas apesar de nós? Quem é o
ditador do nosso destino, perdoem-me a redundância?
Outra vez tantas perguntas num comentário onde eu deveria dar a certeza
de ter ou não gostado deste filme. Interessa essa certeza? Se sim, acho que vale a pena verem
o filme. Se não interessa, acho que vale, na mesma, ver o filme.
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