Homem de Aço de Zack Snyder


(Antes de mais nada.

É-me impossível não revelar pequenos spoilers deste filme, não tanto de eventos mas mais da filosofia, se assim quiserem. O que, para a maior parte dos apreciadores não terá importância, mas para os BDfélios pode revelar alguma coisa que talvez não queiram)

Como já tinha feito na minha leitura do Iron Man 3, não vou estar com muitos rodeios: adorei este Super-Homem. Existem falhas, principalmente ao nível de argumento, e não se trata de uma peça de arte no sentido mais puro do Cinema, mas é um espetáculo de entretenimento soberbo, que encheu-me o olho, entusiasmou-me e finalmente trouxe para o grande ecrã uma faceta “esquecida” de um dos meus super-heróis favoritos: o seu lado de super-herói ou, melhor dizendo, finalmente tivemos ação a sério com o Homem de Aço.

As batalhas e combates entre o personagem principal e os vilões são o que há muito os fãs do Super-Homem estavam á espera. Peço desculpa por este lado tão pouco intelectual, mas faltava “porrada” da valente num filme do mais conhecido dos super-heróis. Estamos a falar, evidentemente, do pai deles todos, a matriz arquetípica sobre a qual todos se basearam, o mais poderoso da legião que se lhe seguiu, e já estava na altura de perceber porque se trata do rei, o personagem que, sozinho, fez aquilo que os Vingadores tiveram de fazer em equipe. A escala do conflito é avassaladora, destruindo propriedade e vidas numa dimensão até agora nunca vista num filme do género. O medo infligido, a passividade com que a humanidade presencia o conflito, espelha o que de facto se esperaria caso esta realidade, estes deuses em combate, ocorresse verdadeiramente: seríamos pouco mais que espectadores. E mais ainda, a violência seria de facto este extremo incompreensível e aterrador, à qual apenas podíamos assistir ou morrer. Isto tudo é fantasia? Sim, é. Isto tudo é meta-textual, comentário hermético sobre o universo de super-heróis? Sim, é. Mas, ou se gosta ou não. Tão simples quanto isto.

Amy Adams como Lois Lane é, a meu ver, um dos pontos fortes do filme. Para quem pudesse ter duvidas como uma humana poderia ter uma relação com um dos mais poderosos seres à face da Terra, este filme ajuda a perceber. Esta mulher vale por si mesma, desvencilha-se por si mesma, a relação que constrói com o Super-Homem não é tanto de “dama em apuros” mas antes de companheira de armas. Isto apesar de, na segunda parte do filme, a da acção, pouco haver para fazer do que assistir (à semelhança de todos os outros).

Henry Cavill. Não faço parte dos que o acham uma má escolha. Digo antes que o personagem que interpreta é difícil. Como disse no meu artigo da Maxim (leiam-no aqui), o Super-Homem é muitas vezes considerado bacoco, um refugo anacrónico de valores datados, inocentes e ingénuos. Cavill retrata-o assim, como um homem de pureza sobre-humana (ainda que a mesma seja, inteligentemente, posta em causa na surpresa final do filme) que, como o pai kryptoniano lhe sugere, veio à Terra para dar um exemplo a seguir à humanidade. Esta é, aliás, uma das muitas referencias messiânicas e cristãs, uma das muitas comparações entre este personagem e Jesus Cristo, que são feitas ao longo do filme, uma mais interessantes, outras tão óbvias que chegam a ser constrangedoras. Mas voltando a Cavill. O actor consegue levar a bom porto esse ar de ingénua crença no melhor do homem, um exemplo de pureza que funciona pelo contágio. Faltarão pormenores mas acho que a promessa está feita.

Dos vilões apenas há a dizer duas coisas: Michael Shannon é um vilão conflituado, alguém que podemos de alguma forma compreender, mas de maneira nenhuma concordar; Antje Traue, a krpytoniana Faora-Ul, é verdadeiramente temível, toda ela movimentos predadores felinos. Imaginem o temor infligido por um tigre, multipliquem-no por super-poderes divinos e têm uma amostra do que achei ser a força da presença deste personagem. Com certeza acharão que exagero mas o entusiasmo por estas coisas da BD tem destes defeitos.

Tanto mais há a dizer: que Russel Crowe funciona como o pai krytoniano de Kal-El; que o facto de ser naturalista, um crente na matriz natural e não tanto científica, é um pormenor delicioso que, contudo, poderia ter sido melhor aproveitado; que muito pouco tempo é dedicado aos pais terrenos (e são aqueles que mais deveriam ter contribuído para a educação do personagem, pelo menos na versão do Super-Homem que mais aprecio); que a primeira parte do filme, que acaba com o vestir do uniforme, deveria ter durado mais tempo ou então deveria ter sido evitada, porque acaba por ser aquela que achei mais desequilibrada; e tanta mais coisa. Mas fica a sugestão: tentem ir ver este filme com olhos bem abertos. Podem não gostar mas, pelo menos, não julguem o personagem pelos preconceitos costumeiros. É que, desculpem a ousadia, o Super-Homem e a sua mitologia são um dos exemplos mais vibrantes da cultura popular do século XX. E vale a pena apreciar.

1 comentário:

Nuno Amado disse...

Concordo textualmente contigo e achei o Cavill um excelente Superman!
E sim, para aqueles que dizem que foi violência a mais e despropositada... bem, imaginem duas bestas daquelas à porrada! É isso que eu gosto em Nolan. É realista neste estilo de coisas!
;)