(Antes de mais nada.
É-me impossível não revelar
pequenos spoilers deste filme, não tanto de eventos mas mais da filosofia, se
assim quiserem. O que, para a maior parte dos apreciadores não terá importância, mas para os BDfélios pode revelar alguma coisa que talvez não queiram)
Como já tinha feito na minha leitura do Iron Man 3, não vou estar com muitos rodeios: adorei este
Super-Homem. Existem falhas, principalmente ao nível de argumento, e não se
trata de uma peça de arte no sentido mais puro do Cinema, mas é um espetáculo
de entretenimento soberbo, que encheu-me o olho, entusiasmou-me e finalmente trouxe
para o grande ecrã uma faceta “esquecida” de um dos meus super-heróis
favoritos: o seu lado de super-herói ou, melhor dizendo, finalmente tivemos
ação a sério com o Homem de Aço.
As batalhas e combates entre o personagem principal e os vilões são o
que há muito os fãs do Super-Homem estavam á espera. Peço desculpa por este
lado tão pouco intelectual, mas faltava “porrada”
da valente num filme do mais conhecido dos super-heróis. Estamos a falar,
evidentemente, do pai deles todos, a matriz arquetípica sobre a qual todos se
basearam, o mais poderoso da legião que se lhe seguiu, e já estava na altura de
perceber porque se trata do rei, o personagem que, sozinho, fez aquilo que os Vingadores tiveram de fazer em equipe. A
escala do conflito é avassaladora, destruindo propriedade e vidas numa dimensão
até agora nunca vista num filme do género. O medo infligido, a passividade com
que a humanidade presencia o conflito, espelha o que de facto se esperaria caso
esta realidade, estes deuses em combate, ocorresse verdadeiramente: seríamos
pouco mais que espectadores. E mais ainda, a violência seria de facto este
extremo incompreensível e aterrador, à qual apenas podíamos assistir ou morrer.
Isto tudo é fantasia? Sim, é. Isto tudo é meta-textual, comentário hermético
sobre o universo de super-heróis? Sim, é. Mas, ou se gosta ou não. Tão simples quanto
isto.
Amy Adams como Lois Lane é, a meu ver,
um dos pontos fortes do filme. Para quem pudesse ter duvidas como uma humana
poderia ter uma relação com um dos mais poderosos seres à face da Terra, este
filme ajuda a perceber. Esta mulher vale por si mesma, desvencilha-se
por si mesma, a relação que constrói com o Super-Homem não é tanto de “dama em
apuros” mas antes de companheira de armas. Isto apesar de, na segunda parte do
filme, a da acção, pouco haver para fazer do que assistir (à semelhança de
todos os outros).
Henry Cavill. Não faço parte dos que o acham uma má escolha. Digo antes que o
personagem que interpreta é difícil. Como disse no meu artigo da Maxim
(leiam-no aqui), o Super-Homem é muitas vezes considerado bacoco, um refugo
anacrónico de valores datados, inocentes e ingénuos. Cavill retrata-o assim, como um homem de pureza sobre-humana (ainda
que a mesma seja, inteligentemente, posta em causa na surpresa final do filme)
que, como o pai kryptoniano lhe
sugere, veio à Terra para dar um exemplo a seguir à humanidade. Esta é, aliás,
uma das muitas referencias messiânicas e cristãs, uma das muitas comparações
entre este personagem e Jesus Cristo, que são feitas ao longo do filme, uma
mais interessantes, outras tão óbvias que chegam a ser constrangedoras. Mas
voltando a Cavill. O actor consegue
levar a bom porto esse ar de ingénua crença no melhor do homem, um exemplo de
pureza que funciona pelo contágio. Faltarão pormenores mas acho que a promessa
está feita.
Dos vilões apenas há a dizer duas coisas: Michael
Shannon é um vilão conflituado, alguém que podemos de alguma
forma compreender, mas de maneira nenhuma concordar; Antje Traue, a krpytoniana Faora-Ul,
é verdadeiramente temível, toda ela movimentos predadores felinos. Imaginem o
temor infligido por um tigre, multipliquem-no por super-poderes divinos e têm
uma amostra do que achei ser a força da presença deste personagem. Com certeza
acharão que exagero mas o entusiasmo por estas coisas da BD tem destes
defeitos.
Tanto mais há a dizer: que Russel
Crowe funciona como o pai krytoniano
de Kal-El; que o facto de ser naturalista, um
crente na matriz natural e não tanto científica, é um pormenor delicioso que,
contudo, poderia ter sido melhor aproveitado; que muito pouco tempo é dedicado
aos pais terrenos (e são aqueles que mais deveriam ter contribuído para a
educação do personagem, pelo menos na versão do Super-Homem que mais aprecio);
que a primeira parte do filme, que acaba com o vestir do uniforme, deveria ter
durado mais tempo ou então deveria ter sido evitada, porque acaba por ser
aquela que achei mais desequilibrada; e tanta mais coisa. Mas fica a sugestão:
tentem ir ver este filme com olhos bem abertos. Podem não gostar mas, pelo
menos, não julguem o personagem pelos preconceitos costumeiros. É que,
desculpem a ousadia, o Super-Homem e a sua mitologia são um dos exemplos mais
vibrantes da cultura popular do século XX. E vale a pena apreciar.
1 comentário:
Concordo textualmente contigo e achei o Cavill um excelente Superman!
E sim, para aqueles que dizem que foi violência a mais e despropositada... bem, imaginem duas bestas daquelas à porrada! É isso que eu gosto em Nolan. É realista neste estilo de coisas!
;)
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