O que vou lendo! - Saga vol. 2 de Brian K. Vaughan (escritor) e Fiona Staples (desenhista)

Saga não é bom. É excelente.

aqui tive oportunidade de dar uma impressão acerca do primeiro volume deste novo trabalho de Vaughan e Staples. Mas enquanto o livro anterior introduzia-nos ao mundo, o segundo emerge-nos na mitologia… não, esperem… não na mitologia, mas na história, no coração, na alma - perdoem-me os mais susceptíveis a estes substantivos. Saga é uma lição em como uma parceria na BD deverá funcionar, em como se escreve deliciosamente bem, sem esforço mas profundamente, uma belíssima história. Com entretenimento, sim, mas também com a abrangência dos temas universais, num alcance que me maravilhou em cada virar de página. Para alguém que já nos tinha trazido Y: The Last Man e Ex-Machina, Vaughan, a continuar assim, pode estar a dar-nos a sua melhor obra até o momento.

Num ambiente de ficção científica a saga dos amantes de mundos rivais continua, enquanto tentam criar a sua recém-nascida no meio de uma perseguição levada a cabo por várias frentes, por quem entende que este amor é prejudicial para a continuação de um professo status quo – mesmo que esse seja a guerra e perpetuado por um conjunto de elites. Não parece nada de novo, pois não? Parece Romeu e Julieta com pozinhos de Matrix. Lamento informar-vos mas a novidade, nos dias que correm, é cada vez mais difícil de conseguir, e é apenas pelo lado autoral, pelo ponto de vista, que se atingem as verdadeiras revoluções. E essa visão, esse laborar de palavras, imagens e enredo, isso Vaughan e Staples têm-no sem esforço.

O tema principal de toda a saga é a família, o que não deixa de ser irónico quando o palco da ação é o universo operático da ficção científica, e neste segundo volume este tema é abraçado com vigor.

A imaginação fértil de Vaughan continua a embelezar a narrativa principal com visões enormes e palcos rocambolescos. O autor continua a usar a splash page (uma página com um único quadradinho) com verdadeiro impacto narrativo. A primeira página de cada capítulo é uma lição em como cativar os leitores para a narrativa, não só pelo lado do enredo, mas também recorrendo a incursões pelo meta-textual, ao quebrar a quarta parede e a subtilmente dirigir-se ao leitor. A última página de cada capítulo é, por sua vez, sempre um cliffhanger fenomenal que nos força a não parar de ler. Tudo gerido com parcimónia de palavras e imagens, apenas o essencial para cativar e elucidar. Uma sinfonia em BD.

O único defeito que posso apontar é que tenho de esperar muito pelo próximo volume. E, já agora, parabéns à Image por estar paulatinamente a tornar-se na herdeira da Vertigo. De facto, quantas destas mais houver… melhor.

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