Saga não é bom. É excelente.
Já aqui tive oportunidade de dar uma impressão acerca do primeiro
volume deste novo trabalho de Vaughan
e Staples. Mas enquanto o livro anterior
introduzia-nos ao mundo, o segundo emerge-nos na mitologia… não, esperem… não na
mitologia, mas na história, no coração, na alma - perdoem-me os mais susceptíveis
a estes substantivos. Saga é uma
lição em como uma parceria na BD deverá funcionar, em como se escreve
deliciosamente bem, sem esforço mas profundamente, uma belíssima história. Com
entretenimento, sim, mas também com a abrangência dos temas universais,
num alcance que me maravilhou em cada virar de página. Para alguém que já nos
tinha trazido Y: The Last Man e Ex-Machina, Vaughan, a continuar assim, pode estar a dar-nos a sua melhor obra
até o momento.
Num ambiente de ficção científica a saga dos amantes de
mundos rivais continua, enquanto tentam criar a sua recém-nascida no meio de
uma perseguição levada a cabo por várias frentes, por quem entende que este
amor é prejudicial para a continuação de um professo status quo – mesmo que esse seja a guerra e perpetuado por um
conjunto de elites. Não parece nada de novo, pois não? Parece Romeu e Julieta com pozinhos de Matrix. Lamento informar-vos mas a
novidade, nos dias que correm, é cada vez mais difícil de conseguir, e é apenas
pelo lado autoral, pelo ponto de vista, que se atingem as verdadeiras
revoluções. E essa visão, esse laborar de palavras, imagens e enredo, isso Vaughan e Staples têm-no sem esforço.
O tema principal de toda a saga é a família, o que não deixa
de ser irónico quando o palco da ação é o universo operático da ficção científica,
e neste segundo volume este tema é abraçado com vigor.
A imaginação fértil de Vaughan
continua a embelezar a narrativa principal com visões enormes e palcos
rocambolescos. O autor continua a usar a splash
page (uma página com um único quadradinho) com verdadeiro impacto narrativo.
A primeira página de cada capítulo é uma lição em como cativar os leitores para
a narrativa, não só pelo lado do enredo, mas também recorrendo a incursões pelo
meta-textual, ao quebrar a quarta parede e a subtilmente dirigir-se ao leitor. A
última página de cada capítulo é, por sua vez, sempre um cliffhanger fenomenal que nos força a não parar de ler. Tudo gerido
com parcimónia de palavras e imagens, apenas o essencial para cativar e
elucidar. Uma sinfonia em BD.
O único defeito que posso apontar é que tenho de esperar
muito pelo próximo volume. E, já agora, parabéns à Image por estar paulatinamente a tornar-se na herdeira da Vertigo. De facto, quantas destas mais
houver… melhor.
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