Iron Man 3 de Shane Black

1) Aqueles que lêem este blog com relativa assiduidade, sabem que é um pouco difícil falar com total objectividade sobre filmes baseados em personagens de BD (não vou discutir a questão epistemológica de ser ou não possível objectividade sobre qualquer assunto). Ao mesmo tempo, o facto de acompanhar a vida literária de muitos deles há mais de 30 anos, dá-me uma certa perspectiva sobre estes filmes, para o bem e para o mal;

2) Vai ser difícil falar sem pequeníssimos spoilers, mas apenas para os amantes de BD, mas vou fazer mais do que um esforço para contornar toda e qualquer impressão mais concreta sobre o enredo e “filosofia” do filme. Detestaria que me fizessem o mesmo.

Comecemos pela conclusão: gostei muito deste terceiro episódio do Homem de Ferro. As únicas e pequenas reservas que tenho passam, essencialmente, pelos desvios face ao material fonte. Existem diferenças (algumas até bastante substanciais) que, durante algum tempo, reduziram-me o imenso prazer que foi voltar ao mundo de Tony Stark, versão Robert Downey Jr. Todos os que leram histórias do Homem de Ferro vão percebê-las instantaneamente, podendo, como eu, ficar um pouco apreensivos. Outros poderão sentir-se até particularmente frustrados e não recuperar. Espero sinceramente que não existam muitos fãs de BD que fiquem nesta última categoria, já que as alterações acabam por ser colmatadas pela excelência da história.

Quanto aos restantes, os apreciadores casuais e não tão casuais de cinema, estas diferenças face às BD’s não interessam para nada, não diluem ou acrescentam ao prazer (ou desprazer) de ver o filme.

A estrela de Homem de Ferro 3 é, ainda mais que nos anteriores, Robert Downey Jr. É ele que, com a exuberante personalidade com que recheia Tony Stark, merecidamente carrega todo o filme. Aliás, em boa parte da duração, pouco vemos a armadura do super-herói mas antes a desenvoltura e engenho do homem. E aqui reside uma parte da alma deste filme, o enfoque na carne e osso em detrimento dos enredos “super-heroísticos”. Se bem que existe um lado que advêm do envolvimento do Homem de Ferro nos Vingadores que é particularmente delicioso e acertado.

Outro dos aspectos inesperados (mesmo depois dos dois filmes anteriores) é o sentido do humor exibido principalmente nos diálogos, que acabam por relativizar algumas das situações mais ridículas ou perigosas, ao mesmo tempo que, obrigatoriamente, emprestam humanidade aos personagens e robustez ao argumento. Esta versão do herói da Marvel é o anti-Batman.

O personagem de Pepper Potts, protagonizado por Paltrow, está longe de ser apenas o obrigatório interesse amoroso de Tony Stark. Aqui ela não é apenas a dama em apuros, não é um reflexo da misoginia de que é acusado o mundo dos super-heróis (vamos ser honestos, muitas vezes merecidamente). Ela não só é a consciência do protagonista mas também a mão e a acção.

Em resumo, um filme que não vale pela excelência da Arte mas que, no catálogo de adaptações de BD’s ao cinema, não desmerece, antes acrescenta.

Finalmente, um aviso à navegação: não se esqueçam de ver o filme até depois dos créditos finais. É que existe mesmo uma cena.

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