Esta é uma série, não me canso de repeti-lo,
desavergonhadamente divertida. Se querem ler algo que tenha a telenovela e
acção típicos de super-heróis, sem subtextos, interpretações metafísicas,
referenciais a grandes obras da literatura mundial, a eventos, a situações,
pura e simplesmente uma obra divertida e acessível, Invincible é a vossa praia, confiem em mim. E é substancialmente
melhor que a maior parte da arte que sai das duas maiores editoras de
super-heróis do mundo, a Marvel e a DC. Porque não temos de ler mil e um
outros livros para perceber todo o contexto, porque o escritor e desenhistas
são os mesmos quase desde sempre (o escritor é o mesmo desde sempre), existe
consistência criativa e narrativa dificilmente batida pelos vendedores de franchises que são as duas gigantes
americanas. Não me interpretem à letra, quer a Marvel quer a DC produzem
muita coisa boa, mas os personagens não pertencem aos autores, o que torna
difícil a inventividade e a mudança, a evolução e, muitas vezes, a maturidade
dos personagens. E aqui reside uma das maiores forças de Invincible. Os personagens não estagnam nas suas incarnações iniciais,
eles evoluem, crescem e morrem. Ninguém aqui está a salvo de amadurecer e
crescer, perdoem o pleonasmo. Não estão presos à rotina narrativa, cada virar
de página pode efectivamente trazer-nos uma surpresa.
Robert
Kirkman, o escritor e criador (o mesmo de The Walking Dead) deve muito do seu
estilo à influência do actual patrão da editora Image , Erik Larsen, que o
cultivou na emblemática série, Savage
Dragon, que infelizmente já viu melhores dias. Mas ao contrário do “mestre”
Kirkman não abrandou ainda o passo,
construindo um mundo e personagens de forma ao mesmo tempo familiar e fresca.
Reconhecemos todos os arquétipos que aqui
estão representados. Há um Super-Homem, uma Mulher-Maravilha, um Batman, um
Homem-Aranha, um Wolverine (estes nomes não estão aqui por acaso). Há uma Liga
da Justiça, uns Vingadores, um Quarteto Fantástico (também não estão aqui por
acaso). Mas, acima de tudo, há muito Robert
Kirkman, Ryan Otley e Cory Walker.
Em cada quadradinho.
Este volume, que colecciona os números 91 a 96
da série, prepara-nos para o capítulo 100, sempre um marco nestas coisas da BD
americana. Curiosamente não se centra no personagem dono do título, antes em
dois dos coadjuvantes, Robot e Monster Girl, e na sua inacreditável
história de amor passada num mundo alternativo, onde o tempo demora de uma forma
diferente. E temos uma invasão provinda desse mesmo mundo alternativo. Como é o
estilo de algumas histórias de super-heróis, os dois enredos entrelaçam-se de
forma íntima e pessoal para os personagens, revelando-se num todo sólido.
Consistentemente sólido, como esta série já me habituou.
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