Existe, neste filme, um esforço para que a
história, o entrelaçar dos diálogos, dos sentimentos e das ações, funcione. Funcione
para lá da execução mecânica, da eficácia da queda organizada dos dominós. Da
reação que vem depois da ação. Aqui tudo é sentimento, amor, palavras escritas em
ações vindas do coração, ações que ultrapassam a razão e o razoável. Este é,
pura e simplesmente, um belíssimo filme.
Barbara é médica na República Democrática Alemã em 1980, condenada a exercer a
sua atividade numa aldeia, após uma tentativa frustrada de se evadir para o
Ocidente. No hospital para que é destacada conhece um colega de profissão
afectuoso que a tenta conquistar desde o primeiro momento. Ao mesmo tempo que tenta obstruir os sentimentos dele e dela, planeia a sua segunda tentativa de evasão com um amante. Todo o filme pendula
entre estes dois temas, o amor e a liberdade, ambos entendidos nas suas formas
mais puras e – porque não dizê-lo - sublimes.
O ponto de vista escolhido é sempre o da
titular do filme que, contudo, é-nos revelado telegraficamente, a conta gotas, para
que o realizador possa lentamente desconstruir o desejo de
evasão, de fuga, de liberdade, sentimento esse com o qual facilmente nos identificamos
e que associamos aos residentes do outro lado do Muro de Berlim. Este desejo, em
consequência dos pequenos momentos que constroem o dia-a-dia destes dois
personagens, quer sós, quer juntos, vai se transformado e evoluindo, e com ele a
história. Existe um momento chave em
que nos é contada uma história dentro desta história, sobre
sucedâneos, e nesse pequeno e genial pedaço de tempo, tudo se muda e, sim,
tudo se transforma.
Fala-se ainda de maternidade, do legado que deixamos
aqueles que nos seguem, daquilo que ensinamos. Não pelas palavras mas pelos atos,
pelos gestos de carinho, compaixão e amor que altruisticamente estendemos aos
que nos são mais novos e livres de passado e futuro.
Existe, na paisagem despojada de bens materiais que era a ex-RDA, um enaltecimento do que pode ser considerado como verdadeiramente importante. Nunca de forma bruta, paternalista ou panfletária, antes calma e arejada.
Finalmente, não pode falar-se de Barbara sem mencionar o excelente
trabalho dos dois atores principais, Nina
Hoss e Ronald Zehrfeld, que
ajudam a construir o difícil caminho de quem habitava a ex-RDA, imersa na
desconfiança, no medo, no julgamento em prol de “um bem comum”. No último
momento, o plano final, é nos dada toda a informação que interessa saber sobre
o final da história, derramando sobre os espectadores e de forma avassaladora
todos os sentimentos em jogo, toda a beleza construída. E tudo resumido num
olhar.
Assim dá prazer ir ao cinema.
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