Calma, o 5.º está aqui, não me esqueci de nada.
4 – La Source
des Femmes de Radu Mihaileanu (A Fonte das Mulheres) ex-aequo
Os dois filmes que ocupam simultaneamente o 4º
lugar tem muito em comum mas o ponto de toque mais importante é, sem duvida, o
retrato que pintam da força da Mulher. La
Source des Femmes centra-se na sua luta numa aldeia perdida no árido Norte
de África, onde os homens, sem trabalho, acomodaram-se a papéis antigos,
enquanto as mulheres continuam a viajar, arduamente e à custa da sua saúde,
para encontrar água numa fonte longínqua à aldeia. Umas das mulheres, letrada,
educada e casada com um marido obviamente diferente dos restantes, decide
iniciar uma luta utilizando a única arma que estas mulheres parecem ter à sua
disposição... o sexo. Ao fazer greve, acaba por convencer as restantes mulheres
e, ajudada por uma das anciãs, inicia uma lenta modificação que acaba por
alastrar-se para fora das fronteiras do pequeno lugarejo. A força da história
do filme tem reverberações numa atualidade infraestruturada em longínquos e
datados pensamentos, que a força da segunda metade do século XX parecia, se não
eliminado, pelo menos sido palco da determinada modificação de mentalidades. Não
parece ser assim! E a Arte tem de ter um sinal de alerta ligado aos circuitos
da realidade. Por isso estes La Source
des Femmes e...
4 – Et
maintenant ont vá oú? de Nadine Labaki (E Agora onde Vamos?) ex-aequo
Aqui a história é outra. Num aldeia do Líbano
convivem duas fés, a islâmica e a cristã, imaturamente defendidas por homens belicosos
e orgulhosos, também eles agarrados à
monotonia alicerçada na cegueira da tradição. Ainda que laços de amizade filial
e humana liguem os vários membros da aldeia, estes não são suficientes para os
juntar na inimizade religiosa. Pequenos mal-entendidos forçam às mulheres dos
dois lados da barricada a ardilosamente conceber planos atrás de planos para
juntar os homens em detrimento de si mesmos. Até o genial plano final. Nadine Labaki já nos havia presenteado
com o não mais leve Caramel, mas este
Et maintenant ont vá oú? uma vez mais
representa a força da história sobre todos os outros argumentos que uma forma
de Arte pode apresentar.
3 –
Young Adult de Jason Reiman (Jovem Adulta)
Os escombros de Beleza que aparecem espalhados
neste filme são totais. Tanto a física como a imaterial aparece descarnada,
quer pela artificialidade desmascarada, quer pela crueza da realidade exposta.
E tudo feito através de Charlize Theron,
que não se coíbe (em sequências extraordinárias e prenhes de ironia) de
explicitar como pode a Beleza ser construída, artificializada, teatralizada por
fumo e espelhos. Masoquismo auto irónico. Diablo
Cody, a argumentista, volta para as mãos do realizador que a tornou numa
das mais requisitadas obreiras de scripts
de Hollywood depois de Juno e,
enquanto este falava de crianças-adultas, Young
Adult fala, apropriadamente, de adultos-crianças. Um cautionary tale para este século XXI cheio de entretenimento
escapista para adultos escapistas.
2 –
Tabu de Miguel Gomes
O Tabu de Miguel Gomes é um filme
extraordinário e, sim, é português. Nos últimos anos, sem concessões, a
filmografia portuguesa tem descaradamente entrado nos meus filmes favoritos
(Sangue do meu Sangue, Mistérios de Lisboa) e este, de tão sublinhadamente bom,
é apenas o mais recente. Uma homenagem ao Cinema, quer pelo preto e branco,
quer pela sequência semi-muda, quer pela estrutura reflexo de um outro Tabu, este de Murnau, é também um filme em si extraordinário, belo, arrebatador,
nas sequências clássicas das planícies de África, da história de amor que
morreu, décadas mais tarde, nas ruas de Lisboa. Uma análise pós-colonialista da
psique portuguesa mas sem descurar, como todas as boas histórias, a
universalidade tão necessária. Viva o Cinema português neste profundo ano de crise
(e não falo da financeira)!
1 –
Shame de Steve McQueen (Vergonha)
Primeiro foi a Fome e agora a Vergonha. Assim
vai a colaboração entre um realizador e um ator. Pouco é dito, quase nada é
revelado, neste belíssimo filme em que antes tudo é exposto na “clareza” opaca
da película cinematográfica, dos longos planos expiatórios, das expressões
cruas de um extraordinário Michael
Fassbender. Que passado está por detrás do distanciamento da realidade
experienciado pelos personagens? O que levou ao comportamento limite de Fassbender, um espectador da sua própria existência? Não sabemos
e, porque o Mistério perdura, teremos que ver e rever o filme as vezes
necessárias até o compreender. Ou não, porque ainda que os olhos sejam o
espelho da nossa alma, os de Fassbender
não contam histórias completas, apenas rasgos de uma realidade. Cinema em
estado elevado.
Sem comentários:
Enviar um comentário