A Estrada de Corman McCarthy

A Estrada de Corman McCarthy é um livro negro. Melhor dizendo, é um livro cinzento. Porque um pai e um filho caminham vagarosamente numa paisagem desolada e desolante, onde o cinzento em que se tornou o mundo se perde no finito do horizonte. Onde um vale é igual a um outro vale, onde os rios e os bosques e os mares e as florestas perderam qualquer indício de vida, excepto por aquele que o Homem teimosamente insiste em perpetuar.

Mas A Estrada de Corman McCarthy é também uma carta de amor de um pai para um filho. Assim o diz McCarthy na obrigatória dedicatória do início do livro. O Pai arrasta um filho pela paisagem cinzenta - tão cinzenta - de uma América e de um mundo destruídos, na busca desesperada de uma vã esperança, sonhada num oceano do lado oeste da América. Talvez nele exista vida e perpetue-se a esperança. E o Pai – apenas por este nome ficaremos a conhecer o personagem homem – teimosamente arrasta o filho por aquele mundo morto, na esperança de lhe encontrar algo melhor.

E caminham. E caminham. E caminham. Inexoravelmente. Raramente encontrando vivalma. E a que encontram raramente é sã. Nada mais que homens transfigurados neste cenário cinzento. Homens que o deixaram de ser. Homens que são rabiscos de uma criança ensandecida. Ensandecida como o cinzento que são as cinzas que restaram no mundo.

Que aconteceu? Porquê esta terra infértil? Nada interessa a não ser o paulatino e exaustivo caminhar de um pai e de um filho em direcção ao oceano sonhado.

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