Que tenho o coração preto
Dizes tu, e inda te alegras.
Eu bem sei que o tenho preto:
Está preto de nódoas negras.
I have a black heart
You say, and still you rejoice.
I know that I have it black:
It’s black ‘cause of the bruises.
Fernando Pessoa, Poeta Português, Portuguese Poet
6 comentários:
Este Pessoa era um tipo muito aborrecido…
Vou lá ter pena do coração do homem!
Só me lembro do Cesariny a dizer:
"Seis e meia. Ó neurastenia
O homem que venceu está de borco
E sente uma grande agonia
Que afinal é da carne de porco
que comeu no outro dia."
Talvez não tenha sido muito amistosa nos últimos dias. Mas espero não ter contribuído para as nódoas negras
Está melhor. Assim começo a ter pena...
“Não vi as marcas do anel,
Que o seu dedo me mostrava
Só vi o seu olhar de mel
Sem segredos, como água...
O que diziam não ouvi
Pois pensava ser maldade,
Acreditei só quando vi
Com os meus olhos a verdade...”
O Cesarinny devia era comer menos carne de porco à alentejana com ameijoas janadas. Assim talvez lhe passasse a azia. Sempre ouvi dizer que dá alucinações.
Se calhar faltou o perfume dos coentros.
Os pequenos pormenores é que dão a alegria, o prazer.
E as alucinações, quantas vezes ...
Ao que consta, o Cesariny até era bem (demasiado) temperado, pouco requintado (ele ia lá lembrar-se dos coentros!) e bem amigo das alucinações.
E não eram amêijoas janadas! Era uma ostra. Daí os belos versos da muito bela canção “Afinal havia ostra”.
Isto quando toca a ostras, há uns que ficam com nódoas negras, há outros que ficam com azia. Ao Fernando dava-lhe para as equimoses cardíacas, ao Mário para a neurastenia ácida.
No outro dia, encontrei-me com o Álvaro, o engenheiro De Campos, que, angustiado, me confessou:
“Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória…”
E eu, aflito para sair do tom confessional, respondi-lhe:
Ó homem, você está pior do que o Pessoa! Ande lá com a vida, o mundo está cheio de pessoas amistosas!Aproveite.
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