Kyoto de Yasunari Kawabata
Antes de dizer qualquer coisa deixem-me só esclarecer dois pontos.
Eu detesto críticos que acham necessário contar a história da obra de arte que estão a analisar, que acham necessário escalpelizá-la para melhor expressar a sua opinião. Não contribui para que eu, como leitor, aprecie, posteriormente, bem a história. Muitas vezes quer mesmo ditar qual a interpretação “correcta” da obra e, outras vezes e ainda mais odiosamente, quer vender o produto para uma audiência tipo. Desculpem se pareço demasiadamente verrinoso mas eu gosto da novidade muitas vezes inerente ao apreciar de qualquer que seja a obra de arte.
Dito isto, sempre me debati com a ideia que uma história alicerçada simplesmente no enredo, no “o-que-vai-acontecer-a-seguir”, não oferece muito mais do que isso mesmo. Uma história, para ser revisitada, talvez mesmo para ser considerada mais do que puro entretenimento, tem de dizer algo mais, tem que falar uma verdade (nota: eu adoro puro entretenimento, mas não só). Não é certamente o caso deste livro de Kawabata mas ainda assim não contem comigo para vos dizer qual o enredo. E eu sei que isso vai dificultar em muito esta minha recomendação.
Agora que me meti neste beco, deixem-me vos tentar incentivar a ler mais este livro de Kawabata. Se vos digo que a prosa dele é leve, uma folha de papel na calma brisa outonal, um calor reconfortante da fim da estação quente, então não vos estou, primeiro, a dar nenhuma novidade e, segundo, estou apenas a transmitir-vos a maestria do estilo narrativo deste autor japonês. Se vos digo que só o prazer de ler a calma descrição de uma árvore nas duas primeiras páginas do livro torna-se, mais tarde, num importante ponto do enredo e num mote para a compreensão do estilo e mensagem de “Kyoto”, então já começo a entrar pelos terrenos pantanosos que atrás referi. Se, finalmente, vos falo das lautas caminhadas pelas cerejeiras em flor de Kyoto, a cidade, da enumeração dos festivais deste Japão, do subtil, sussurrado e discreto universo das mulheres japonesas, então já vos falo do prazer (difícil, por vezes) de apreciar esta obra de arte.
Este é mais um delicado sopro de Kawabata. Espero que um dia o possam apreciar!
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