Steve Jobs disse que a Morte era a maior invenção da Vida. A incapacidade dos seres vivos de serem imortais possibilita a renovação e a evolução. A permanência é inimiga da melhoria. Por mais que custe, esta é uma realidade. Contudo, ela choca com o obcecado ego humano, que insiste em encontrar soluções para durar a sua existência deste lado do véu. Um dos mais antigos sonhos da Humanidade é a imortalidade, alicerçado na ideia de que seremos melhores. Essa imortalidade implica a conquista da Morte, do ficar mais um dia, mais um mês, mais uma eternidade. É uma luta contra a nossa percebida brevidade. Esta obsessão leva-nos a prodígios tecnológicos, científicos e médicos que prolongam a média de idade, evitam doenças e multiplicam o nosso número pela face da Terra. A BD, inédita em Portugal, La Mort Vivante de Olivier Vatine e Alberto Varanda é, também, sobre isto tudo.
Num futuro incerto, a Terra está practicamente desabitada. Boa parte da humanidade migrou para Marte. Ainda assim, a morte de uma jovem no nosso planeta levará a que um cientista seja convencido a abandonar o planeta vermelho e a voltar a casa. Aqui, porá toda a sua ciência ao serviço do ressuscitar da criança perdida, convencido por uma mãe obcecada pela perda.
La Mort Vivante começa por ser uma história cheia de ambiência ao estilo steampunk, misturando ficção científica e ruínas de castelos alpinos. Nos corredores escuros, convive a busca de progresso cientifico, o amor paternal e o amor carnal. Tudo caminhará para a conclusão típica de um conto ao estilo Frankenstein, de um cautionary tale de cariz premonitório e niilista. A lição encontra-se sublinhada de forma indelével ao longo de toda a narrativa, mas é apenas na última frase, no último diálogo, que o alcance da obra de Vatine e Varanda é revelado ao leitor. Não sendo totalmente original, a mistura de ingredientes permite uma leitura fácil e até surpreendente.
Um dos grandes atractivos desta obra é o trabalho minucioso de Varanda que, segundo se afirma, demorou sete anos a completar. Nascido em Portugal em 1965 e residente em França desde 1968, é evidente o trabalho cuidado e demorado do desenhador. Com uma escolha criteriosa da velocidade e da ambiência, cada quadradinho é usado para melhor servir a narrativa e não tanto como exibicionismo do virtuosismo de Varanda. Funciona, quer em termos épicos, quer mais privados, numa mostra que o eleva ao estado de um dos melhores da actualidade (só espero é que a próxima obra não demore tanto tempo).
Uma obra importante para estes nossos tempos modernos.
3 comentários:
Olá :)
Ainda não percebi se vai haver edição em português disto, sabes algumas coisa?
Não sei onde li/ouvi que havia vários interessados na aquisição dos direitos por isso deve haver edição portuguesa para breve. Esperemos que saia em Beja. De preferência a edição a p/b e aumentada. Já a tive nas mãos e é soberba.
Obrigado aos dois pelos comentários.
Como a pergunta é a mesma respondo aos dois de uma assentada. Sim, ouvi falar de vários interessados, mas não sei quem (e se alguém) ficou. Como o Varanda vem a Beja, pode ser que, de fato, haja lançamento por lá.
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