Dans Mes Yeux de Bastien Vivès - Casterman

Depois do surpreendente Uma Irmã, publicado em português de Portugal pela Levoir, a vontade de investigar outras leituras de Bastien Vivès era muita. Já conhecíamos Last Man, um registo pop/manga do autor francês,  mas foi necessária a insistência de um amigo para folhear este Dans Mes Yeux, inédito nas nossas terras. Trata-se de uma experiência narrativa em formato BD, colocando o leitor nos olhos do protagonista, enquanto se apaixona por uma jovem mulher.


O Cinema está repleto deste tipo de experimentalismo narrativo, ao colocar a câmara nos olhos de um dos protagonistas. Lembramos filmes como Dark Passage (1946) com Humphrey Bogart e Laurel Bacall, ou o mais recente Into the Void de Gaspar Noé (2012). Como arte que partilha tantas das mesmas soluções narrativas, a BD não gosta de ficar atrás e, quando a inspiração permite, eis que surgem obras como esta. Vivès é um autor jovem, mas cujo currículo é já variado e longo. Uma Irmã foi das nossas leituras favoritas deste ano de 2018 e Last Man é um divertimento consistente e descontraído.  O seu ecletismo autoral tem-no transformado num dos nossos preferidos para acompanhar e a sugestão deste já antigo livro (2009) veio em bom tempo. Totalmente "filmado" pelos olhos de uma das personagens principais, acompanhamos o nascimento e evolução de uma simples história de amor entre dois jovens. 

A mesma desenvolve-se sem floreados, acompanhando a simplicidade do desabrochar e solidificar de uma relação entre dois humanos que encontram, em cada um, a necessidade de estar juntos. Mas a arte de Vivès reside na capacidade de ilustração, no sintetizar expressões e movimentos, que contam tanto quanto o leitor é capaz de discernir das intenções e pensamentos nos desenhos e na sequência narrativa. A história está nos olhos, no tempo que demoramos numa cena, no pormenor que escolhemos prestar atenção. Este é um livro que pensamos poder ler rápido. Somos antes obrigados e a demorar em cada momento para conseguir perceber, mais tarde, o conteúdo e intenções dos protagonistas. 

Dans Mes Yeux de Bastien Vivès é uma prova do que a BD é capaz, da sua diversidade, da sua inventividade, do que pode ainda ser, bastando aos autores arriscarem soluções narrativas. Um triunfo.

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