Uma BD aqui, outra BD ali, 26 - Doomsday Clock 8 e Shazam 1

Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei.  Não são nem melhor nem pior que outras coisas.

Doomsday Clock número 8 de Geoff Johns e Gary Frank (DC Comics)


Já passámos a marca do meio e Doomsday Clock continua a ser uma viagem que tem tudo para agradar a fãs - e não só. O número oito avança de forma significativa a narrativa, ao finalmente introduzir, de forma mais clara, um dos mais importantes intervenientes da mesma (não, não vos vou estragar revelando quem é). Depois do anúncio de que o dia 11 de Junho de 2019 será relevante para esta história e para o universo DC como um todo (provavelmente será publicado o número 11 de DClock), teríamos de, obrigatoriamente, ter avanços no enredo. Geoff Johns afasta-se um pouco do mundo dos Watchmen e entra decididamente no da DC, com o aparecimento de várias das suas mais emblemáticas personagens, despoletando um momento importante de consequências inesperadas. O escritor não só usa essas mesmas personagens como as faz interagir com indivíduos do nosso mundo muito real e importantes no panorama político internacional. Desta forma, atira a narrativa para a esfera do relevante e sério, sem perder um átomo do valor de entretenimento. 


Não é - nem pretende ser - tão relevante ou sério quanto a obra da qual é a continuação, mas Johns e Frank são dignos sucessores do lendário trabalho de Alan Moore e Dave Gibbons. Especialmente no desenho, no qual Gary Frank é um merecido seguidor do trabalho do original. O uso da grelha de nove quadradinhos continua a ser a forma narrativa de eleição, usada de forma eficiente por ambos os autores  - ainda que com muito menos palavras que as utilizadas por Moore (o diálogo é a principal ferramenta escolhida por Johns). A caracterização dos protagonistas é, como sempre, na mouche, algo a que o escritor sempre nos habituou, mas em DClock atinge uma certa maturidade, não só pelos temas abordados, como também por entrar menos na surpresa ao estilo pop, mas antes pelo desenvolvimento sério das personagens.

É sem dúvida um projecto ambicioso, pelo alcance do que Johns/Frank aqui querem conseguir mas, principalmente, por seguirem as pegadas de gigantes. Pela amostra, não irão atingir essas alturas, mas é uma obra que vale (e muito) por si mesma. Mal podemos esperar pela conclusão.

Shazam! número 1 de Geoff Johns e Dale Eaglesham (DC Comics)


O Capitão Marvel original está de volta. Ainda que a DC Comics tenha perdido os direitos do uso desse nome já desde a década de 70, tendo sido reclamados pela Marvel, a outrora famosa personagem (na década de 40) prevê-se vir a recuperar boa parte do lustro entretanto perdido. Para esse feito contribuirá, principalmente, o filme homónimo que estreia em 2019, mas também o trabalho de Geoff Johns e Dale Eaglesham, que se inaugura com este primeiro número.

Os tiques de Johns estão lá todos. O worldbulding, agarrando no que já existe e edificando à sua volta não um novo prédio mas uma cidade inteira. Desde a primeira página que isso é claro, lembrando o trabalho deste escritor na sua seminal sequência de histórias no Lanterna Verde. Já se vislumbram novos mundos por sobre o que antes existia, revelando paisagens infinitas para histórias infinitas. Só esperamos que tenha tempo para as levar todas a bom porto. Também o sólido construir de personalidades e personagens é patente, aqui e acolá um pouco estereotipadas, mas de forma geral eficientes. Johns é parcimonioso mas directo, lembrando o que é economia no storytelling. Associado está o traço atraente de Eaglesham, com quem já tinha trabalhado na Sociedade da Justiça, e que parece só melhorar com a idade. Quadradinhos cheios e dinâmicos, apropriados ao estilo maior-que-a-vida exigido por este tipo de super-herói. 

Shazam consegue cativar os leitores antigos da personagem (dos quais eu sou apenas ocasional), mas evolui-a de forma mais do que satisfatória. É cativante e divertido. Esperemos que Johns tenha inspiração para assim continuar.

2 comentários:

lendo à bessa disse...

Doomsday Clock me surpreendeu. Seria o Johns revigorado pelo retorno aos gibis? Espero que estes novos ares tragam mais bons frutos.

SAM disse...

Obrigado pelo comentário.

É isso. É esperar que o final seja tão bom quanto a expectativa.