Wonder Woman Earth One vol. 2 de Grant Morrison e Yanick Paquette

Passaram-se dois anos desde a primeira parte da prometida trilogia escrita por Grant Morrison e desenhada por Yanick Paquette protagonizada por Diana, Princesa de Themyscira, a Mulher-Maravilha. Trata-se de uma nova interpretação da conhecida personagem da DC Comics, passada numa realidade paralela à linha normal da editora, com o objectivo de ser acessível ao público em geral, sem descurar uma visão autoral para leitores tendencialmente mais sofisticados. 


Grant Morrison é conhecido por uma escrita cheia de maneirismos próprios de autor. Ao longo de mais de três décadas tem conseguido trazer algumas das mais conhecidas BDs do panorama dos comics, algumas mais surrealistas, outras de tendência pop. Este Wonder Woman Earth One é mais próxima da segunda, mas ainda assim longe de ser de consumo imediato.  O escritor, depois de no primeiro volume ter concebido a obrigatória história de origem, entra agora, de forma assumida, numa análise à complexa personalidade e conceito por detrás de Diana. A Mulher-Maravilha, desde a sua criação por William Moulton Marston na década de 40, sempre se assumiu como um delicioso paradoxo. Uma super-heróina vinda de uma civilização avançada habitada e governada unicamente por mulheres mitológicas, as Amazonas, com pretensões de trazer princípios de paz e amor ao mundo do homens, sem recurso à violência. Nesta sociedade pacífica, e colhendo das conhecidas inclinações filosóficas, sexuais e societais do próprio Marston, cultivava-se a submissão amorosa como caminho para a construção de uma melhor sociedade. O amor entre pessoas era livre, poliamoroso, respeitador das opões de todos mas submisso a uma força feminina. 

O criador de Diana acreditava que as mulheres governariam melhor o mundo. Morrison agarra nesta conflituosa concepção de paz mundial para construir uma narrativa que coloca enormes pontos de interrogação à forma e conceito da personagem titular, provando não só a intemporalidade da mesma, como a eterna qualidade do seu valor. A própria questiona, nesta nova história, a sua missão e a forma da sua missão, ao ser colocada frente a frente a ideologias tão díspares quanto a do nazismo e a modernos conceitos como o do marketing. Para isso, Morrison interpreta inimigos da galeria de vilões de Diana como a Baronesa Paula Von Gunther e Dr.Psycho, ambos criados por Marston, que assumem aqui uma capa de seriedade que têm tido dificuldade em conseguir.

Um dos melhores momentos deste livro acontece logo no início, com a invasão nazi à Ilha de Themyscira. Uma parte importante da mensagem de Morrison (de Marston, na realidade) é representada em momentos que namoram o ridículo, mas que se assumem como metafóricos. Esta é a segunda parte da então anunciada trilogia e teremos ainda de esperar pela conclusão da mensagem final num livro que poderá transformar-se num pico de qualidade da personagem e da BD. E, claro, para esse fim não é de descurar o trabalho de design, estruturação e desenho puro e duro do canadiano Paquette.

PS - Somos só nós ou o Dr. Psycho tem a cara chapada de Nick Cave?

2 comentários:

Optimus Primal disse...

Será que a Levoir vai editar aqui?

SAM disse...

Era bom. É uma questão de mostrar à Levoir que se deseja que saia. É escrever para eles no FB ou enviar mensagem.