Titans, temporada 1, episódios 2 a 4


Já falamos aqui do primeiro episódio da série inaugural do serviço de streaming da DC Comics, Titans, que interpreta, com um tom maduro e negro, a famosa BD criada na década de 80 pelo escritor Marv Wolfman e pelo desenhador George Pérez. À altura, foi um dos maiores sucessos comerciais da DC, competindo e, por vezes, superando o sucesso que eram os X-Men da Marvel. Não deixa de ser, ao mesmo tempo, surpreendente e entusiasmante que a editora escolha estas personagens como porta-estandarte do seu serviço ao estilo Netflix. O primeiro episódio já tinha sido um bom começo, mas estes três seguintes parecem solidificar a série de TV como uma tentativa séria em produzir um programa uns patamares acima do costumeiro produto de super-heróis.


Os níveis de produção são um esforço significativo para subir uns degraus em qualidade. Ao escolher uma história alicerçada nas personagens (um refugio normal em TV, por questões orçamentais), os episódios permitem-se ser uma calma exploração da qualidade das mesmas, sem descurar momentos pontuais de boa acção e de bons efeitos especiais, tão importantes em super-heróis. A realização e o tom tendem para o negro e tangencialmente deprimente, o que fornece uma camada de seriedade que, para muitos, é uma mais-valia e, para outros, o oposto.

As personagens ajudam a sublinhar ou a amenizar este lado. Por exemplo, esta versão do Robin/Dick Grayson está a passar por um mau bocado (do qual ainda não sabemos a causa), sendo um dos responsáveis pelo lado mais urbano-deprimente da série. No segundo episódio, esta vertente é particularmente abordada e questionada, com o aparecimento de outros dois vigilantes urbanos, Hawk & Dove, duas personagens que nunca viram a luz do dia em adaptações live action. Criados pelo lendário Steve Ditko (o mesmo do Homem-Aranha) esta interpretação é, novamente, bastante negra, ainda que funcione particularmente bem dentro do restante contexto da série. Um dos aspectos curiosos é que, graças à realização e trabalho de costume designers, os uniformes de Hawk e da Dove, ainda que namorem o ridículo, funcionam particularmente bem. As personagens são resultado também de um bom casting e uma missão clara, bem construída pelo argumento.

Kory Anders, a Starfire/Estelar, e Rachel Roth, a Raven/Ravena, são as duas mais poderosas personagens e, no caso da segunda, o móbil de todo o argumento, com o seu passado a ensombrar a narrativa. No terceiro episódio, funcionam de forma fluída como dupla, equilibrando entre um já leve humor e o terror ao estilo satânico/divino, que é obrigatório quando falamos de Raven. Mas é no quatro episódio que Titans atinge um nível superior de entretenimento e qualidade, ao introduzir, de forma mais clara, o humor de Gar Logan, aka Beast Boy/Changeling (Mutano, em português), e as estrelas deste capítulo, a Doom Patrol. Personagens obscuros para pessoas fora (e mesmo dentro) do mundo da BD, são uns favoritos pessoais deste que vos escreve. Esta interpretação funde duas versões, a original, da década de 60, com a mais surreal do escritor Grant Morrison, datada das décadas de 80-90 - provavelmente o período mais profícuo, artisticamente, da editora DC. No momento em que dão ar da sua graça, esta Patrulha do Destino transforma-se em favorita, pela idiossincrasia, pela estranheza e pelo cuidado na adaptação - que é surpreendentemente fidedigna. Aliás, toda a série, ainda que tome várias liberdades em relação ao material-fonte (Estelar e Ravena, para dar os dois exemplos mais flagrantes), em alguns momentos assume toda a sua genética bedéfila e não tem medo, como já disse, de arriscar o ridículo. Só por isso já vale aplausos.

A continuar assim, a DC tem uma pequena jóia no seu catálogo de TV. É esperar pelos episódios que faltam.

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