Columbus de Kogonada

Um homem fica doente. Um homem que dedicou a vida inteira a transmitir conhecimentos sobre Arquitectura.  Fica hospitalizado na cidade de Columbus, nos EUA, onde iria dar uma palestra sobre essa mesma urbe, meca de edifícios de design único. Alunos e admiradores zelam pelo seu bem estar, mas é no filho que recai o peso maior, filho que vive como tradutor na Coreia do Sul, de onde o pai é originário. Obrigado a abandonar o seu trabalho e a sua vida, o personagem interpretado por John Cho irá confrontar-se com o legado de um pai ausente, ao mesmo tempo que conhece uma cativante jovem de 20 anos, na pele de Haley Lu Richardson. Ela anda à deriva, sem saber o que fazer depois de haver acabado o liceu, e nutre um amor profundo pela Arquitectura, tão importante na sua terra natal. Ao mesmo tempo, cuida de uma mãe com problemas profundos. Apesar da diferença de idade, irá germinar entre os dois uma profunda amizade, alicerçada num entendimento e respeito mútuos.


Este é o primeiro filme do realizador Coreano, um relativamente (des)conhecido ensaísta de cinema, tendo já dedicado obras a Ozu (de cujo argumentista, Kogo Nada, inspirou o seu nome artístico), Bergman, Bresson, Hitchcock, entre outros nomes gigantes da sétima arte.  A imagem de Columbus não disfarça a (boa) influência destes gigantes, mas é do primeiro que Kogonada mais bebe. A câmara do coreano, à semelhança da do japonês, é estática e observadora. Insiste em parar o olhar em enquadramentos cheios de beleza, enaltecendo não só as personagens, mas também a arquitectura que serve de leitmotif para a relação entre os protagonistas.  Este é um filme que se rege pela extrema beleza e suavidade de cada cena, com os edifícios e estruturas de Columbus a reverberar as suas rectas e as suas curvas pelas pausadas e compassadas palavras dos diálogos e dos silêncios entre Cho e Richardson. Vislumbra-se, de forma discreta e pouco assumida, a possibilidade de um romance entre ambos, mas o filme, de forma sublime, gere essa tensão, enaltecendo intenções de um romantismo já demodé (lembra In the Mood for Love, de Wong Kar-Wai). 

Este é um filme sobre futuros, sobre o que pode ser ao invés do que tem de ser. Do conflito entre dever e ser. Na gestão brilhante das duas personagens, ambas assombradas por pais problemáticos, Kogonada constrói uma narrativa rica sobre legado e obrigações, enquadrada por planos de uma cinematografia invejável e de uma arquitectura sublime. Um dos grandes filmes do ano.

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