Titans temporada 1, episódio 1


No início a década de 80, a DC Comics encontrava-se em sérios apuros. As suas personagens, apesar de conhecidas, estavam a ser trucidadas pela Marvel nas vendas. O que tinha se iniciado cerca de 20 anos antes, atingira o ponto de ruptura em 1978, com o cancelamento de inúmeros títulos - num momento que ficou conhecido como a DC Implosion. Eis que aparecem o escritor Marv Wolfman e o desenhador George Pérez, ambos vindos da Marvel. O segundo já carregava consigo uma aura de excepção e era seu sonho desenhar a Liga da Justiça. Contudo, enquanto essa oportunidade não se apresentava, decidiu juntar-se a Wolfman para recriar um conceito antigo da DC: os Teen Titans (Turma Titã). 


A equipa fora incialmente composta por ajudantes de alguns dos maiores super-heróis da editora: Robin; Wonder Girl; Kid Flash; Aqualad. A revista original fora cancelada, mas na cabeça do escritor existia ainda um enorme potencial. Surgem os New Teen Titans (Novos Titãs), nos quais integravam as três primeiras personagens dos titãs originais, três criações novas (Starfire, Cyborg e Raven) e uma remodelada (Changeling, aka Beast Boy). O que começou, nas palavras de Pérez, como um trabalho enquanto esperava  por aquilo que lhe interessava, acabou por crescer e transformar-se numa das mais importantes colaborações criativas da BD dos EUA. Lendária, mesmo. Durante mais de 60 números, criariam um dos pontos altos das suas carreiras, da DC e da nona arte em terras do Tia Sam.

Trinta anos depois, este conceito criado por dois jovens cresceria para entrar no imaginário colectivo de crianças, com uma conhecida série de desenhos animados, Teen Titans Go! (do qual houve também um filme recentemente), e inaugurar os conteúdos televisivos originais do serviço de streaming da DC: Titans.

Titans apresenta, neste primeiro episódio, versões baseadas nas originais mas francamente diferentes. O ambiente e tons são negros, com violência incontida explícita, temáticas adultas e roupagens que entram decididamente no mundo do terror. Como referiram os autores desta nova iteração dos Titãs, a primeira temporada servirá para reunir as personagens e, neste primeiro episódio, tivemos contacto com quatro delas: Robin; Starfire (Estelar); Raven (Ravena); e Beast Boy (Mutano). À semelhança de na BD, é Raven o mote da reunião dos protagonistas. É ela quem começa a vivenciar sonhos e experiências traumatizantes que a impulsionarão a encontrar os outros membros da equipa. Robin é Dick Grayson, que encontra-se desavindo com o mentor, o Batman, exibindo extrema violência e comportamentos a beirar a sociopatia. Starfire (que tantos denegriram pelo aspecto) é, provavelmente, o elemento mais entusiasmante de toda a série, com um enredo paralelo que a envolve num mistério cativante. Beast Boy aparece ainda muito pouco para solidificarmos uma opinião mais robusta.

O tom da série é particularmente sombrio. Para quem está habituado aos New Teen Titans da BD (e não vale a pena mencionar a versão infantil dos Teen Titans Go!), não poderiam encontrar-se num território menos familiar. Estes Titãs  não são sorrisos e esperança (há que esperar pelo Beast Boy). A paleta de cores é cinza e escura. Os diálogos evocam desespero. Esperem mais uma DC versão Frank Miller e Alan Moore, o que não deixa de ser curioso tendo em consideração que é também escrita pela mão de Geoff Johns, o autor que está a devolver o sentido de esperança ao universo da BD de super-heróis da editora (com DC Rebirth e Doomsday Clock). Contudo, estes avisos que fazemos é para benefício do nosso leitor e não nosso. Gostamos deste primeiro episódio e os 50 minutos souberam a muito pouco e o entusiasmo pelo próximo é já mais que muito. Não se trata de um versão fofa dos Titãs nem tampouco um compromisso. É assumidamente pessimista e negra... mas não sabemos se não é antes um caminho para pastagens melhor iluminadas.

Este primeiro episódio é um bom começo, ainda que, admitimos, não para todos os gostos. Contudo, no que a nós diz respeito, estamos curiosos. 

Sem comentários: