Thelma, estreado na semana passada pela chancela da distribuidora Cinema Bold, é um filme com todos os tiques do melhor do terror. Esta estética continua a atrair vários realizadores, que gravitam na direcção de um estilo onde podem brincar com as emoções dos espectadores de uma forma primal e pura. Joachim Trier, realizador dinamarquês que deu-nos, por exemplo, Oslo 31 de Agosto, não é excepção. Ainda que este último filme se centrasse nos dramas bem reais de um jovem a recuperar de uma adicção a drogas, não deixa de partilhar do código genético de Thelma. Ambos centram-se nos dramas de dois jovens. Acontece que um é mais fantástico do que outro.
Thelma é filha de pais fortemente religiosos. Na infância, episódios estranhos marcaram a família de forma trágica, entretanto esquecidos pela protagonista. Acompanhamos agora os seus primeiros tempos a frequentar a faculdade, onde irá ser confrontada com novos conhecimentos e novas formas de pensar. Ao mesmo tempo, a sua sexualidade, até então reprimida, desperta inusitadamente. No meio deste dramas bem reais, começa a exibir estranhos poderes.
Como muitos dos bons filmes de terror, o realizador escolhe a parcimónia para lidar com a narrativa. Não existem monstros escondidos, banhos de sangue ou mesmo sustos de fazer saltar da cadeira da sala de cinema. Nesse aspecto, trata-se de um filme atípico, quando consideramos os cânones do género. Ainda assim, ao escolher focar-se nos aspectos realistas das provas de adolescência da jovem Thelma, com os seus desejos e confusões, inscreve-se no melhor que exemplos passados conseguiram também trazer para a história desta arte. Lembrem-me, por exemplo, do Carrie de Brian de Palma ou do It Follows de David Foster Mitchell. Ao escolher entrelaçar o fantástico com o real, Trier não só ajuda ao relacionamento do espectador com os eventos, como aumenta o nível de desconforto. É isso que faz algum do melhor terror e é que isso que faz deste Thelma um dos mais interessantes filmes exibidos em 2018 - e que podem ver no El Corte Inglês, em Lisboa e no Arrábida no Porto.
Finalmente, um forte parabéns à Bold, que tem distribuído algumas pérolas menos conhecidas do Cinema e que merecem ser vistas em sala. No ano passado, foram os distribuidores do nosso filme favorito do ano: A Criada de Park-Chan Wook.
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