A editora de BD dos EUA, a DC Comics, tem, nos dois últimos anos, mudado a sua visão editorial. Tem procurado diversificar a plataforma de ofertas, apelando a diferentes formatos, a diferentes tipos de púbico e, em última análise, convencendo autores de outras alas a contribuírem com a sua perspectiva para as personagens do catálogo. Para os que a acompanham desde há algum tempo, não é uma posição nova. No rescaldo do terremoto que foi a série Crise nas Terras Infinitas, a DC, no desespero de vendas anémicas, apelou a talento de todo o lado para energizar as suas personagens. Assim, tivemos os Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, o Batman de Frank Miller, o Animal Man de Grant Morrison, o Super-Homem de John Byrne, a Mulher-Maravilha de George Pérez e, claro, o corolário, o nascimento do selo Vertigo. As décadas de 80 e 90 foram terreno fértil para abordagens diferentes e maduras.
Passamos para esta segunda década do século XXI e a DC, entre 2011 e 2016 encontrava-se numa situação parecida à da pré-Crise - estava numa crise de vendas... outra vez. Eis que surge o DC Rebirth, que tem procurado revitalizar o lado mais mainstream, os super-heróis, mas os editores da DC não se ficaram por aí. Começaram a congeminar outras abordagens. Perceberam que o mercado de BD dos EUA está a alterar-se profundamente com o intensificar da mentalidade waiting for the trade, no fundo um resultado óbvio da maturidade dos leitores que ela própria criou com a Vertigo - e não só. Pensam eles que os leitores querem não só histórias fechadas como mais complexas, melhor desenhadas e libertas da pressão da saída mensal. No fundo uma aproximação mais europeia à BD.
Começaram então a aparecer notícias dessas diferentes abordagens, das quais destacamos a DC Black Label, e que um dia falaremos em mais pormenor, mas que basicamente fornece liberdade criativa aos melhores autores e "exige" uma perspectiva adulta sobre as suas personagens. Mas não se ficaram por aí. Surge o convite para este autor franco-belga, Enrico Marini, escrever o mítico Batman. O escritor/desenhador italiano (nascido na Suíça) tem-se destacado por estes lados com obras como Águias de Roma, O Escorpião ou Gypsy (tudo publicado em Portugal pela Asa) , com um traço sexy, dinâmico e atraente. Parecia mais do que apropriado para o universo "maior que a vida" do Homem-Morcego.
Batman: O Príncipe Encantado das Trevas de Marini é um incursão ao estilo "sonho molhado" do autor. Sem grandes desculpas, agarra nas personagens mais emblemáticas do universo Batman (ficando a faltar apenas o Robin) e constrói uma narrativa pop à volta das mesmas: divertida, cheia de acção enérgica e despretensiosa. Em suma, um excelente filme de verão. Teremos o prazer de ver mais um confronto entre o Batman e o Joker, com a Mulher-Gato e a Harley Quinn colocadas sem esforço. Não existe aqui nada de novo nem de verdadeiramente inovador, mas entretém dentro do necessário. Ainda assim, Marini arrisca em criar duas novas personagens para o já repleto universo Batman. Uma na figura de um pequeno e balofo capanga do Joker, com tendências depressivas e cheio de frases divertidas. Outra, numa jovem rapariga que é uma das surpresas do twist final do livro. No fundo, não surpreende ninguém, mas adiciona uma dinâmica muito interessante ao mito e que, obrigatoriamente, terá de ser seguida pelo autor e pela DC.
Marini dá-nos uma narrativa pop cheia de velocidade, com desenhos atraentes e sexy, e que diverte tanto quanto qualquer filme de acção. Não sendo um marco significativo na já rica História do Batman (ou, se calhar, até será por causa do twist final), entretém. E isso já não é nada mau!
2 comentários:
Realmente divertido apesar do mistério ser óbvio.
Obrigado pelo comentário. É isso mesmo. Divertido.
Enviar um comentário