Ant-Man and the Wasp (Homem-Formiga e a Vespa) de Peyton Reed

Os estúdios cinematográficos da Marvel continuam a afirmar-se, ano após ano e lançamento após lançamento, como a maior força produtiva do Cinema vindo de Hollywood - o que, por definição, a transforma na maior do mundo. O que começou há 10 anos, cresceu ao ponto de transformar-se na bitola segundo a qual todos os aspirantes a Reis de Bilheteira se regem. A sua influência é gigante e omnipresente. Quem diria que um grupo muito pequeno de geeks da BD da década de 60 daria origem a este monstro financeiro que gera receitas raramente vistas? O irónico é que é a imaginação desses geeks ou daqueles que se sentiram inspirados (também) por eles que controlam a indústria cinematográfica dos EUA nesta primeira metade do século XXI. Não se esqueçam do Avatar de James Cameron, ou do Star Wars de George Lucas.


O toque de Midas é de tal forma seguro que a Marvel/Disney apostam em personagens de franja, daqueles apenas conhecidos pelo mais empedernido fã de BD. O Homem-Formiga e a Vespa não são propriamente pesos leves no universo Marvel, já que foram membros originais dos Vingadores, mas nunca saíram muito para lá deste canto restrito da cultura pop. Originalmente, eram Hank Pym e Janet Van Dyne, sendo depois substituídos, temporariamente, por outras iterações, como a de Scott Lang  ou de Nadia Van Dyne. Enquanto que, na BD, os dois primeiros continuam claramente no activo e jovens, na sua versão cinematográfica são parte de um legado que passa para a geração seguinte, neste caso o já referido Scott Lang e ainda Hope Van Dyne, filha biológica dos originais. É deste molde familiar que se gera o enredo deste novo filme da Marvel.

Este é um filme sobre família e para a família. Scott vive preocupado em conseguir a melhor forma de educar a sua filha, enquanto que Hank e Hope Pym procuram desesperadamente pela esposa e mãe perdida. É, aliás, Janet Van Dyne o motor desta narrativa, a pedra de toque que coloca a acção em andamento e força a reunião dos diferentes intervenientes na busca de um McGuffin. Tudo doseado, de forma leve, com o humor que é a imagem de marca destes filmes e com uma realização que, não me canso de dizer, totalmente funcional mas profundamente segura. O produto funciona, não mexe, segue em frente pelo inexorável caminho deste leviatã que é o Universo Cinematográfico da Marvel. 

Homem-Formiga e A Vespa é um filme divertido, um respirar fora do grande arco de história que envolve Thanos, que funciona muito bem como entretenimento descomprometido. Paul Rudd, Evangeline Lily, Michael Peña, Michael Douglas, Michelle Pfeifer e todos os outros actores desempenham os seus papéis sem soluços - sendo de destacar o trabalho divertidíssimo de Peña, a eficiência profissional da Vespa de Lily e o carisma de Rudd, uma escolha acertada para protagonista. Um óptimo filme para estes dias acerebrais do Verão, antes de regressarmos à dura crueza de um universo governado pelo niilismo de Thanos. 

4 comentários:

Anónimo disse...

Não consigo deixar de achar interessante o seguinte parágrafo:

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O irónico é que é a imaginação desses geeks ou daqueles que se sentiram inspirados (também) por eles que controlam a indústria cinematográfica dos EUA nesta primeira metade do século XXI. Não se esqueçam do Avatar de James Cameron, ou do Star Wars de George Lucas.
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A importância da criatividade Marvel dos anos 60 é importante, sobretudo para a indústria dos Comics e naturalmente para estes filmes, mas os modelos dos realizadores citados são mais importantes para a Marvel Studios do que o contrário.

A Marvel Studios nunca terá a relevância na história do cinema porque não está a criar coisas novas na forma como se constrói o entretenimento. Ao contrário James Cameron, George Lucas e Spierberg criaram todas as estruturas tecnológicas e narrativas em que a Marvel Studios se foca para criar estes filmes. Não esquecendo até, que a Disney tem a ILM criada por Lucas a alimentar os efeitos destes filmes.

Se gostarmos de belo hamburguer com satisfação garantida, temos estes filmes. No entanto, não se espere algo que possa ser verdadeiramente inovador. Com tanta cadencia de filmes, um ritmo alucinante é impossível criar um filmes com efeitos que rompam com o que já foi feito.

Fernando Campos

SAM disse...

Antes de mais nada, obrigado pelo comentário.

A minha observação não tem tanto a ver com linguagem cinematográfica/de realização, mas antes temática. A Marvel foi um fenómeno de contra-cultura da década de 60 que influenciou vários criadores, directa ou indirectamente. A par disso, frisei que influenciou "também" e, portanto, não exclusivamente.

George Lucas, por exemplo, diz-se ter sido influenciado por BD como Valérian (da qual chega-se a dizer que copiou, mas isso são outras discussões), de filmes do Akira Kurosawa (de quem ele, Spielberg, Coppola, et al, eram enormes fãs), e da cultura pulp.

Spielberg é obviamente um inovador da 7.ª Arte (Jaws é considerado o 1.º blockbuster, por ex., e nem acho que esse seja o seu maior contributo), e o seu gosto pela cultura pop deverá ter passado por diferentes iterações. O mesmo para Cameron que nunca escondeu o seu gosto pela BD - como se vê pela aquisição dos direitos do Gunmm/Battle Angel Alita ou o seu interesse pelo Homem-Aranha, do qual quase fez o filme - ficaram os disparadores orgânicos dos filmes do Raimi, segundo se diz.

Reitero a minha afirmação. Não é minha intenção dizer que estes realizadores foram influenciados, na arte de realização, pelos filmes da Marvel. Disse-o neste post e em vários outros que uma das maiores críticas à Marvel são os realizadores baunilha, por assim dizer, escolhas de estúdio para perpetuar uma visão uniforme pré-definida. Tem assim em quase todos os filmes, com raríssimas excepções. Contudo, e também o disse, esse é o objectivo dos estúdios e não há nada de mau com isso. Só temos de votar com a nossa carteira.

Anónimo disse...

Eu percebi e estou de acordo com o termo "realizadores baunilha".
O que acho mais incrível é que a Marvel tem um realizador que não é baunilha e a Disney correu com ele.

Na minha modesta opinião o James Gunn é o realizador mais autor que a Marvel tinha e quer se goste mas ou menos dos Guardiões, ele é um tipo criativo, arrisca, junta muitas influências, cria algo porreiro e com um feeling original ou pelo menos, com uma brisa fresca.

Confesso que todos os restantes realizadores são competentes e normalmente a Marvel aposta em realizadores capazes de sacar boas interpretações dos seus actores e depois estes são ajudados por segundas unidades e equipas muito oleadas que tratam da acção.

Daí penso que o que a Marvel consegue acertar mais vezes é na escolha do actor certo para aquela personagem. O Chris Evans ainda não me convenceu, mas o Thor neste momento é aquele actor.

O maior desafio que terão será o teste do tempo. A renovação dos actores, quando os Tony Starks tiverem de mudar, poderá haver um problema. Nessa altura, é que vão ter de ser criativos. À força.

Grande Abraço e continuação do óptimo trabalho.

Fernando Campos

SAM disse...

Uma vez mais obrigado pelo comentário e por ter lido o post.

Estamos de acordo em relação ao James Gunn, e ele era uma das excepções a que me referia. Foi tb pena o Edgar Wright ter sido retirado do primeiro Homem-Formiga.

De uma forma geral, os filmes divertem, mas gostava que fizessem um pouco mais que isso.