Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! É um prazer que rezo para nunca acabar. De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Só isso: gostado. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.
Avengers (2018) número 1 (ou 691) de Jason Aaron e Ed McGuiness (Marvel)
Jason Aaron tem construído a sua fama de forma calma e decidida. Deu-se a conhecer com o excelente Scalped da DC/Vertigo e foi invertendo para os super-heróis sem descurar a veia mais "independente". Na Marvel, continuou com uma inclinação que oscilava entre o humorístico soft de Wolverine & The X-Men, o másculo do Wolverine ou o divino cósmico do Thor. Este último abriu-lhe as portas do universo mais mainstream dos super-heróis da editora e, especificamente, o dos Vingadores, que estreia a escrever neste primeiro número de uma nova versão da revista da equipa.
Ed McGuiness é o desenhista que mistura influências mangá, cartoonescas e épicas e que tão bem lhe serviram no Deadpool, no Hulk ou no Super-Homem. É capaz de desenhar a "grandiloquência colossal" de forma divertida e entusiasmante, com um traço carnavalesco e hiperbólico tão bem adaptado à ópera cósmica que (também) são os super-heróis e, especificamente, os Vingadores da Marvel.
Ora, estes dois talentos começaram a trabalhar na mais famosa equipa da BD. O resultado só poderia ser o esperado: bom, muito bom. Escolhem seguir o caminho do cósmico e do divino, sendo diferente de outros autores como Bendis (que preferia os seus Vingadores mais terra-a-terra) e parecido ao de Jonathan Hickman. Por outro lado, não se esquecem que estão numa revista da Marvel, em que as personagens principais podem não dar-se particularmente bem, como é ilustrado na conversa da trindade que são o Capitão América, o Thor e o Homem de Ferro. Estes são três amigos com marcadas diferenças de opinião (exacerbadas, é verdade, nos últimos 20 anos) e que, ainda assim, encontram suficientes pontos em comum para juntarem-se e enfrentar perigos e adversários cuja escala é impensável para a maior parte dos colegas de profissão. Sim, os Vingadores são a Liga da Justiça da Marvel.
Aaron e McGuiness conseguem, ao mesmo tempo, transmitir a enormidade da ameaça e a dinâmica entre as personalidades. O que poderia perder-se no cósmico incompreensível é antes alicerçado pela familiaridade de quem se parece connosco e com os nossos amigos. Esta capacidade é equilibrada pelos textos e diálogos do primeiro e pela destreza do desenho maior-que-a-vida-mas-cartoonesco do segundo. Nos dias de hoje, em que, infelizmente, o desenhista raramente consegue aguentar mais que seis números seguidos, há que aproveitar esta oportunidade e nos deliciarmos num espectáculo ainda maior que o que aparece nas salas de cinema.
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