O que vou lendo! Invincible vols 24 e 25 - The End of all Things de Robert Kirkman, Ryan Ottley e Cory Walker


Lex Luthor, o maior adversário do Super-Homem, afirma, no filme Batman v Superman, que a maior mentira nos EUA é que o poder é inocente. Estava implícito na afirmação que o capacidades divinas do Homem de Aço não podem ser usadas de forma altruísta e desinteressada, que os poderes instituídos (ou o próprio herói) as instrumentalizariam para fazer valer uma agenda mais obscura. A visão de Luthor era pessimista e realista, o que fazia sentido no ponto de vista que Zack Snyder queria fazer passar neste seu filme (para grande descontentamento de quase toda a gente que o viu - excepto eu, que sou um dos que adora o BvS).

Robert Kirkman começou a saga do seu herói Invincible há 14 anos. Achou (e bem) que era altura de colocar um ponto final nas aventuras de Mark Grayson, da família, dos amigos e dos inimigos. Mark é filho do Omni-Man, um análogo do Super-Homem que revela-se ser espião de uma raça alienígena conquistadora. Os 14 anos que se seguem exploraram a relação entre pai e filho, o caminho de herói do segundo e, não de pouca importância, o percurso desde adolescente, passando por pai de família e, finalmente, até chegar líder. O protagonista funcionou sempre como uma mistura entre o Homem de Aço da DC e o Homem-Aranha da Marvel, equilibrando as aventuras cósmicas com dramas quase telenovelescos. Esse equilíbrio foi conseguido de forma, na maior parte das vezes, entretida, muito violenta e recorrendo a um semi-realismo. Fã confesso do Savage Dragon de Erik Larsen, Kirkman bebia da estrutura narrativa usada pelo seu ídolo, com mudanças bruscas de eventos, em que a vida de qualquer personagem alterava-se de forma drástica com o simples virar de página. Nessa capacidade de evolução (que tanto prejudica, em última análise, a DC e a Marvel), os autores conseguiram reter o interesse dos leitores ao longo desta década e meia. Ultimamente, Kirkman parecia estar a ficar sem ideias, daí que ainda bem que as coisas chegaram ao final.

Nestes dois volumes, Kirkman e Ottley chegam ao último capítulo da história de Mark  - Ottley acompanhou o escritor desde o sétimo (dum total de 144), depois de substituir o desenhador original, Cory Walker. À semelhança de volumes anteriores, a estrutura e a ambição são simples: criar uma narrativa divertida e entretida baseada nos lugares-comuns da mitologia de super-heróis. Só por isso já é de louvar. Fecham com chave de ouro e colocam um laço bonito nas muitas linhas que teceram ao longo destes 14 anos. 

Desenganem-se se acreditam não existir algum tipo de inclinação autoral. Kirkman sempre imprimiu velocidade e intenção pop à sua história e, de forma que ainda não percebi se intencional, verteu um optimismo quase naif aos motivos de muitas das personagens, principalmente na forma como interpretava a intenção de alguns heróis, inclusive a de Mark Grayson nestes últimos volumes. As personagens de Kirkman de Invincible acreditam que o poder pode ser inocente. Mesmo que o seu comportamento e acções pareçam imperialistas e marginalmente ditatoriais, elas assumem-no de forma altruísta, cheia de boas intenções. O resultado acaba por ser uma paz duradoura e sustentável, mas realizada à custa de uma tangencial ditadura. Será esta parte do tal optimismo naif ou antes uma crença enraízada? (se calhar uma e outra). A bem ver, estamos a falar de um escritor dos EUA, um país onde uma percentagem aceitável da população acredita que são eles os detentores da verdade e do caminho correcto para a paz mundial (não incluo o poder político estado-unidense, esse bem realista e cheio de agendas).

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