Faz 75 anos que William Moulton Marston, através da editora de BD dos EUA, a DC Comics, publicou na revista All-Star Comics numero 8 a primeira história da princesa Diana de Themyscira, mais conhecida como Mulher-Maravilha. Os desenhos eram de H.G. Peter e o sucesso atingiu quase os mesmos níveis que o das duas outras partes da trindade de super-heróis mais famosa do mundo (Super-Homem e Batman, para quem não sabe).
Eu não comecei a minha paixão pela BD através da Diana mas gostava que tivesse sido. Acho que o primeiro contacto que tive foi na Ericeira onde comprei uma revista da EBAL (editora brasileira), em formato gigante, com uma batalha épica entre a Mulher-Maravilha e o Super-Homem. Os desenhos eram de um mestre lendário, José Luis Garcia-Lopez, e o argumento de Gerry Conway. Claro que fiquei impressionado mas não sei se tanto quanto, na altura, me impressionava o meu super-herói favorito (e primeiro): o Homem-Aranha. Infelizmente essa revista foi desfeita pelo entusiasmo da criancice mas recentemente ofereceram-me um original americano da mesma (obrigado!). Fui tendo outros contactos com Diana, também através da EBAL, mas foi no número 39 da revista Super-Homem da Editora Abril (Setembro de 1987) que um caso de amor sério começou. Compromisso que dura até hoje e apenas com uma pequena interrupção (maldito sejas J. Michael Straczynski). Nessa revista era apresentado o primeiro capítulo daquela sequência de histórias que para sempre marcariam a minha leitura: o trabalho de George Pérez junto com, nos primeiros capítulos, Greg Potter.
Esta é a minha Mulher-Maravilha. Pelas mãos de Pérez não era tanto uma super-heroína, mas uma pacifista. Este paradoxo custou-lhe o devido reconhecimento, não só porque muitos escritores tinham dificuldades em lidar com isso mas, principalmente, porque um super-herói que prefere o caminho da palavra ao invés do da luta não constitui literatura entusiasmante. Por outro lado, o trabalho de Pérez desenvolveu um mundo feminino envolvente, em que as mulheres não limitavam-se a ser deleite para os olhos mas antes eram mostradas em todas as suas complexas facetas. A filosofia do criador original permeava cada poro da histórias de Pérez, que perdia-se em diálogos filosóficos e argumentativos entre as personagens (até o ponto em que eram permitidos sê-lo em algo tão mainstream) que deviam muito ao enaltecimento do papel mais conciliador da Mulher - Moulton acreditava que as mulheres deveriam governar o mundo. Mas desenganem-se se acham que o trabalho de Pérez era só conversa - note-se que o artista foi editado pela mítica Karen Berger, a mesma mulher que trouxe Alan Moore e Neil Gaiman para os EUA (notam o padrão?). A acção estava alicerçada na mitologia grega. A concepção de Pérez do Olimpo é, por si mesma, inultrapassável, tal como foi o fiel e intrincado trabalho dedicado a Themyscira, não descurando a herança helénica na arquitectura, vestes e hábitos. Os vilões, amigos e deuses vinham todos da mais emblemática mitologia do mundo ocidental e, para quem a adorava como eu, associá-la a um personagem de BD era a proverbial "sopa no mel".
Desde essa altura que admiro as histórias da personagem. Nem todas foram memoráveis mas, para além do trabalho de Pérez, outros houve que souberam carregar a pesada tarefa de interpretar os desígnios da filosofia por detrás da Mulher-Maravilha. Depois das edições brasileiras passei para as originais americanas, começando a colecção no trabalho de William Messner-Loebs e Mike Deodato. Desde então (e tirando a tal pequena mas negra fase) não a larguei mais. Hoje faz 75 anos e logo num ano em que o resto do mundo, afirma Greg Rucka, começa a aperceber-se do porquê de gostarmos tanto dela. Pela primeira vez apareceu na 7.ª Arte, numa das mais importantes cenas do ano do Cinema no Batman v Superman. Depois, Rucka, actual escritor das aventuras da Amazona, assumiu, oficialmente, algo que os fãs já sabiam há décadas: Diana é bissexual. Finalmente, hoje é escolhida pela ONU para ser embaixadora do girls' empowerment com a presença das duas mulheres que a interpretaram em carne e osso: Lynda Carter e Gal Gadot.
Parabéns Diana, Princesa de Themyscira. Vida longa à Mulher-Maravilha.
Esta é a minha Mulher-Maravilha. Pelas mãos de Pérez não era tanto uma super-heroína, mas uma pacifista. Este paradoxo custou-lhe o devido reconhecimento, não só porque muitos escritores tinham dificuldades em lidar com isso mas, principalmente, porque um super-herói que prefere o caminho da palavra ao invés do da luta não constitui literatura entusiasmante. Por outro lado, o trabalho de Pérez desenvolveu um mundo feminino envolvente, em que as mulheres não limitavam-se a ser deleite para os olhos mas antes eram mostradas em todas as suas complexas facetas. A filosofia do criador original permeava cada poro da histórias de Pérez, que perdia-se em diálogos filosóficos e argumentativos entre as personagens (até o ponto em que eram permitidos sê-lo em algo tão mainstream) que deviam muito ao enaltecimento do papel mais conciliador da Mulher - Moulton acreditava que as mulheres deveriam governar o mundo. Mas desenganem-se se acham que o trabalho de Pérez era só conversa - note-se que o artista foi editado pela mítica Karen Berger, a mesma mulher que trouxe Alan Moore e Neil Gaiman para os EUA (notam o padrão?). A acção estava alicerçada na mitologia grega. A concepção de Pérez do Olimpo é, por si mesma, inultrapassável, tal como foi o fiel e intrincado trabalho dedicado a Themyscira, não descurando a herança helénica na arquitectura, vestes e hábitos. Os vilões, amigos e deuses vinham todos da mais emblemática mitologia do mundo ocidental e, para quem a adorava como eu, associá-la a um personagem de BD era a proverbial "sopa no mel".
Desde essa altura que admiro as histórias da personagem. Nem todas foram memoráveis mas, para além do trabalho de Pérez, outros houve que souberam carregar a pesada tarefa de interpretar os desígnios da filosofia por detrás da Mulher-Maravilha. Depois das edições brasileiras passei para as originais americanas, começando a colecção no trabalho de William Messner-Loebs e Mike Deodato. Desde então (e tirando a tal pequena mas negra fase) não a larguei mais. Hoje faz 75 anos e logo num ano em que o resto do mundo, afirma Greg Rucka, começa a aperceber-se do porquê de gostarmos tanto dela. Pela primeira vez apareceu na 7.ª Arte, numa das mais importantes cenas do ano do Cinema no Batman v Superman. Depois, Rucka, actual escritor das aventuras da Amazona, assumiu, oficialmente, algo que os fãs já sabiam há décadas: Diana é bissexual. Finalmente, hoje é escolhida pela ONU para ser embaixadora do girls' empowerment com a presença das duas mulheres que a interpretaram em carne e osso: Lynda Carter e Gal Gadot.
Parabéns Diana, Princesa de Themyscira. Vida longa à Mulher-Maravilha.
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