The Revenant de Alejandro G. Iñárritu (O Renascido)


Esqueçam que o Leonardo diCaprio tem um dos melhores papéis da sua vida , e que ... é quase certo, todos o sabemos ... vai lhe dar, finalmente, um Óscar. Esqueçam isso... o que é difícil. Esqueçam também que Tom Hardy faz uma interpretação invejável - e quem o tem visto em filmes como Locke ou Mad Max sabe que a excelência não é inatingível para ele. Esqueçam também isso... o que é difícil. Concentrem-se na realização e na fotografia. Concentrem-se na narrativa. Pode ser que, assim, vejam um filme diferente, melhor, menos agarrado aos soundbites necessários para o vender e vender o Óscar de DiCaprio. 

Foquem a vossa atenção na grande angular da câmara portátil que acompanha (por vezes em travelings longos) a acção de muitas partes do filme. Escolham focar a vossa atenção na luz e na sombra que fazem a iluminação natural com que o filme é filmado. Porque cada cena não tem outra luminosidade a não ser a do sol e as sombras não têm outra ausência de luz a não ser a do sol. Escolham maravilhar-se com os contrastes de cor, com a chuva, com a neve impiedosa. Cada momento de natureza é retirado da virgindade que rodeava os cinematógrafos, quer sejam eles o realizador ou o director de fotografia.  

Decidam que esta é a história, simples, é verdade, de um homem que sobrevive de forma quase impossível (ou será mesmo impossível?) à tragédia e às provações que parecem saídas dos 12 trabalhos de Hércules. Não sei se metade do que aqui é relatado de facto assim se passou mas, a ser, espero que este homem tenha passado o seu código genético para gerações futuras. Sobrevive a todas as doenças, a todas as potenciais infecções, a mutilações do corpo, a agruras climáticas. O mundo e a natureza reduzem este homem aos seus mais básicos elementos. Nada sobrevive a não ser o essencial. Fica o homem nu, por vezes literalmente, exposto e atento ao mundo à sua volta. 

Duas horas e meia de ansiedade, desespero e sobrevivência. 

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