Alan Moore terá um dia dito que não tinha curiosidade em ver as adaptações cinematográficas das suas obras de Banda Desenhada . Esquecendo o conhecido mau feitio do escritor, a razão que apontava era curiosa: ele pensou a obra para ser de BD e, como tal, estava preparada para funcionar apenas como tal. Existe, de facto, uma linguagem exclusiva de cada Arte, seja ela o Cinema, a Pintura, a BD, que faz com que determinadas formas narrativas apenas funcionem bem quando dentro desse universo de referências estilísticas e estéticas. Outras obras ou conceitos não serão tanto assim, possuindo uma versatilidade transversal. Nada é melhor ou pior, que fiquem bem esclarecidos quanto à minha opinião, mas, ainda assim, de vez em quando aparece uma peça que cabe naquela categoria do "impossível-passar-para-qualquer-outra-forma-de-arte". Acredito ser o caso deste impressionante Here de Richard McGuire.
O conceito de Here veio pela primeira vez à tona em 1989 na revista RAW, quando McGuire aí trabalhava sob os auspícios do casal Art Spiegelman e Françoise Mouly, editores da mítica publicação. À altura, a obra já tinha funcionado como uma revolução no processo de contar história em BD, tendo mesmo influenciado autores como Chris Ware, que lhe declarou a sua admiração. Quase duas décadas depois, o autor finalmente acabou o livro que evoluiu a partir desses primeiros momentos e acabou por criar uma das mais originais peças de arte nascida da 9.ª Arte.
O conceito é assustadoramente simples. O ponto de vista do leitor é sempre o canto de uma sala. Duas páginas, lado-a-lado, desenham o local ocupado por esta sala, na realidade a da casa de infância do autor - um pouco de trivia sobre a obra. Poderia pensar-se que teríamos uma narrativa que desenrolar-se-ia linearmente no tempo. Não. Naquele espaço o que muda, sim, é o tempo, mas de forma quebrada, aos soluços, voltando atrás milhões de anos, apenas um mês ou décadas. Também pode avançar dois séculos no futuro. Mas sempre na mesma sala. A data do primeiro plano é a do nascimento do autor. Às vezes vemos apenas um quadradinho no canto do quadrado maior onde um gato passeia-se em 1999. Outra vez é um piquenique no século XIX, no jardim em frente a uma casa que dizia-se ter sido ocupada por Ben Franklin (na realidade era o seu filho), ao mesmo tempo que vemos um dinossauro a comer e um casal de Indios a fazer sexo. Todos os contos são uma mescla de recordações do autor, outros histórias da sua família, mas a maior parte é inventada para construir uma narrativa original e única. Não reproduzível por qualquer outra Arte.
O Aqui refere-se a um espaço que permanece no tempo mas nunca inalterado. A metáfora é óbvia mas na execução transcende-se e eleva-se, conseguindo uma peça de arte final que dificilmente não pode ser considerada maravilhosa.
O conceito é assustadoramente simples. O ponto de vista do leitor é sempre o canto de uma sala. Duas páginas, lado-a-lado, desenham o local ocupado por esta sala, na realidade a da casa de infância do autor - um pouco de trivia sobre a obra. Poderia pensar-se que teríamos uma narrativa que desenrolar-se-ia linearmente no tempo. Não. Naquele espaço o que muda, sim, é o tempo, mas de forma quebrada, aos soluços, voltando atrás milhões de anos, apenas um mês ou décadas. Também pode avançar dois séculos no futuro. Mas sempre na mesma sala. A data do primeiro plano é a do nascimento do autor. Às vezes vemos apenas um quadradinho no canto do quadrado maior onde um gato passeia-se em 1999. Outra vez é um piquenique no século XIX, no jardim em frente a uma casa que dizia-se ter sido ocupada por Ben Franklin (na realidade era o seu filho), ao mesmo tempo que vemos um dinossauro a comer e um casal de Indios a fazer sexo. Todos os contos são uma mescla de recordações do autor, outros histórias da sua família, mas a maior parte é inventada para construir uma narrativa original e única. Não reproduzível por qualquer outra Arte.
O Aqui refere-se a um espaço que permanece no tempo mas nunca inalterado. A metáfora é óbvia mas na execução transcende-se e eleva-se, conseguindo uma peça de arte final que dificilmente não pode ser considerada maravilhosa.
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