The hundred foot
journey de Lasse Hallström (A Viagem de cem passos)
Há filmes que se veem porque
sabem a Domingo à tarde. Porque nos trazem conforto e calor. Não nos procuram
fornecer complexas reflexões sobre a vida, apenas nos fazer passar um bom
bocado, ali durante duas horas, nada mais. Este A Viagem de 100 passos é um deles. O cenário é altamente improvável,
quase telenovelesco, mas a candura e doçura com que nos é apresentado, sem pedantismos
ou “foleirismos” (e eu tenho noção de que isso depende sempre do ponto de vista),
acabou por me conquistar. Uma família indiana vê-se forçada a sair do país e residir
numa pequena aldeia francesa onde decide, à frente de um restaurante dono de
uma estrela Michelin, abrir o seu próprio
espaço e servir a aromática gastronomia do país natal. Um dos filhos do patriarca
indiano é, contudo, muito mais que um simples cozinheiro, é antes um dos mais
dotados chefs que a dona do restaurante
Michelin alguma vez saboreou. No meio
disto tudo há espaço para romance, sempre óbvio mas de todo ofensivo. Aliás, todo
o filme, a partir do momento em que começa, já se sabe onde acaba, mas não me incomodou
de maneira nenhuma. Muito pelo contrário, gostei e muito.
O filme é também um reflexo desta
“moda” a que temos assistido nos últimos termos e que se tem apelidado de “food porn”. Começou com os numerosos
programas culinários que têm surgido na TV e o Cinema e a Literatura (porque este
filme é inspirado num livro) apenas quiseram capitalizar. Nada de mau nisso. Já
tivemos um exemplo este ano, o filme Chef
de Jon Favreau, mas este A Viagem dos 100
passos acaba por ser mais conseguido. Ainda que os dois filmes idealizem um
conjunto de situações, o filme de Hallström
(com argumento de Steve Knight, o mesmo do extraordinário Locke) funciona
pela doçura e romantismo - Favreau tem um romance mal resolvido com a
ex-mulher, protagonizada por Sofia Vergara, e neste temos a mais nova iteração
da rapariga francesa que anda de bicicleta pelas verdes veredas do campo francês.
Um filme para passar umas boas duas horas.
Ilo Ilo de Anthony
Chen
Ilo Ilo é um filme que,
infelizmente, não leva a nenhum lugar particularmente novo. Uma família de
Singapura, emersa na muito atarefada vida diária e prestes a ter um segundo
filho no meio de alguns problemas financeiros, contrata uma senhora indonésia para
cuidar dos afazeres diários e do filho que começa a exibir graves problemas de
rebeldia. No início existem os obrigatórios problemas entre filho e empregada
mas, paulatinamente, esta senhora, que teve de abandonar o seu primogénito na terra
natal, acaba por conquistar o coração do rapaz e, sem grandes surpresas,
geram-se alguns problemas de ciúmes com a mãe. Nada de novo. Aliás, o problema
do filme é que tudo sabe a alguma coisa que tenhamos já visto e o “exotismo” da
geografia não serve para, de todo, torna-lo diferente e único. Os atores são competentes,
o realizador não exibe outros tiques do que os normais e corriqueiros, a história
não surpreende. Não se ganha nem perde nada ao ver este filme.
Sem comentários:
Enviar um comentário