(Prometo informar os menos conhecedores acerca da
acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber
mais coisas)
Grau de acessibilidade: Médio para o Fácil
Sai
amanhã, Quinta-feira, dia 4 de Setembro, junto com Público e custa 8,9€
Em 1981 foi previsto que 2013 seria o ano da
morte dos X-Men, a famosa equipa de super-heróis da editora de BD americana, a Marvel.
Todos eles mutantes que, segundo este universo ficcional, são o passo seguinte na
evolução da humanidade, seriam exterminados num momento da história em nada
diferente do Holocausto. A equipa estava no auge da popularidade, totalmente
por culpa de dois artistas, Chris Claremont (escritor) e John Byrne (escritor e
desenhista), que desde 1975 e 1977, respectivamente, produziam histórias que viriam
a ser consideradas um marco, não só pela qualidade da colaboração, mas também
por apresentarem alguns dos momentos mais relevantes, icónicos e
transformadores da BD americana.
A parelha tinha acabado de sair de um desses
momentos, ao produzir uma das suas mais importantes histórias, em que haviam
sido forçados a matar um relevante personagem dos X-Men na intitulada “Saga da
Fênix Negra” (publicada também Levoir-Público). O que poderia ser visto por
qualquer outro como um apropriado canto do cisne, na realidade serviu como acha
para uma fogueira que arderia ainda por mais alguns meses. Nasceria Days of
Future Past.
O enredo à data era algo de particularmente
inovador na BD americana. Durante dois números mensais, os 141 e 142 da revista
Uncanny X-Men, a equipa dividiu o protagonismo das páginas da revista com uma sua
versão futura. Daí a 30 anos, o governo norte-americano havia aprovado uma lei
que bania a existência dos chamados mutantes, os homo superior, relegando-os a
um papel de párias, perseguidos por todos em geral e por gigantescos robôs
sentinelas em particular, caçadores implacáveis e velhos inimigos dos X-Men. Aquilo
que representavam, as minorias, a luta pela afirmação da diferença, os direitos
dos excluídos, era sublinhado e hiperbolizado, ao comparar a sua luta com o
sofrimento infligido a tantos outros ao longo da História da humanidade. Comparava-os
à perseguição e purga que havia sido sanguinariamente perpetrada a tantos outros
no passado. Depois de caçados como sub-humanos, eram atirados para campos de
concentração, forçados a viver em condições que espelhavam o racismo e desprezo
que inspiravam nos seus semelhantes. Deste futuro distópico é trazida para o
presente a mente de um dos X-Men, que tenta usar o seu corpo de 1981 para
impedir que aquele 2013 tenha lugar.
A luta no presente adquiria um peso diferente.
Os X-Men não lutavam apenas contra o vilão do momento ou o inimigo figadal,
lutavam pelo futuro da sua raça, um futuro que se desenhava negro, o reflexo
distorcido do sonho que os havia inspirado a unir-se, o da irmandade entre
todos os homens. Este conflito era genialmente sublinhado pelos criadores, ao
forçarem no presente de 1981 um combate tipicamente “super-heróico”, mas desta
feita contra um grupo de mutantes terroristas que, não acreditando na filosofia
pacifista dos X-Men, procuravam uma defesa mais militarista dos direitos que
acreditavam ser seus. Deste modo, os protagonistas são colocados numa área
cinzenta de moralidade, fornecendo diferentes pontos de vista e aproximações a
um mesmo problema. A conclusão, à data, foi particularmente dura e
surpreendente, porque as versões dos X-Men de 2013 sofriam um destino nada
risonho. A luta dos principais personagens assumia-se, uma vez mais, como
multidimensional e facetada. O futuro era verdadeiramente trágico e nessa
dimensão Chris Claremont e John Byrne saíam vitoriosos e inovadores. Os X-Men assumiam-se
como personagens de uma tragédia clássica, em que o destino inexoravelmente os
dirigia para um fim negro, apesar de todos os esforços, apesar de todos os
sacrifícios.
Este volume da Levoir coleciona esta história mas não só. Junta os derradeiros e históricos momentos da mítica colaboração
entre Claremont e Byrne: o regresso de Wolverine
à sua terra natal, o Canadá; as boas-vindas de Kitty Pryde ao escola dos X-Men;
a elegia de Jean Grey, a Fênix Negra. Isto é para lá de
essencial, é lendário e objecto de teses de doutoramento sobre a BD.
Nota final – Eu não partilho da opinião que se tem de saber tudo
para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na
descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que
não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.
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