Frank Miller e Alan Moore são dois nomes que os fãs de BD bem conhecem. Ambos revolucionaram a 9.ª Arte dos EUA por volta do ano de 1986. O primeiro com The Dark Knight Returns e o segundo com Watchmen. Ambos prosseguiram as suas carreiras de forma profícua, ambos continuaram a criar caminhos que outros autores de BD seguiriam. Frank Miller, especificamente, criaria duas obras que, neste século XXI, seriam alvo de adaptações para o Cinema, quando a Banda Desenhada começou a ser uma das maiores fontes de inspiração para o grande ecrã. Uma, 300, o relato estilizado da Batalha das Termópilas, foi acalentado mundialmente em 2006. A outra, Sin City, abria em 2005 o espaço para a reverência ao autor de BD. Pela primeira vez, os quadradinhos da obra serviam como inspiração direta para os enquadramentos da objectiva do realizador. Os diálogos eram retirados dos balões, as palavras respeitadas à letra, como se de uma peça de teatro se tratasse. Passados quase 10 anos, Rodriguez e Miller voltam à cidade do pecado, com muitos dos mesmos actores, para adaptar o livro A Dame to Kill For.
Foi este um bom regresso? Sim e não. Claro que boa parte do efeito de novidade desaparece mas quando o filme permanece fiel às palavras e - principalmente - ao ambiente criado pelo autor de BD as coisas vão correndo pelo melhor. O problema é quando isso não acontece. Ao contrário do filme anterior são criadas novas histórias para este novo esforço, uma que consegue beber às intenções do autor, outra que resulta muito pouco já que foge à "fórmula". A principal, aquela que bebe directamente à BD, essa resulta da mesma forma que no filme original, os atores entregando as palavras ao melhor estilo noir hiperbolizado que tanto fez as delicias de quem leu Sin City pela primeira vez nos idos da década de 90. Eva Green é maravilhosa como a titular Dame to Kill For. Josh Brolin encarna perfeitamente o anti-herói típico de Frank Miller. E os restantes atores, os que regressam como Alba, Rourke e Dawson, basicamente sublinham aquilo que já antes tinham feito.
Os cenários, a mise en scéne e o ambiente é exactamente aquele que se espera na continuação do filme original, excepto por uma sarapintadelas de cor que parecem demasiadas. Mas é também aí que falha. Tudo parece ser mais do mesmo. O que funciona em BD, pela repetição, aqui soa a material gasto e revisitado - o famoso "been there, done that". Se, por acaso, este filme tivesse sido feito há seis anos atrás não saberia tanto a sopa requentada. Hoje, sabe a tarde demais. Ainda assim, Frank Miller não se pode queixar. As suas obras de BD, apesar deste esforço mais fraco, continuam um patamar acima das adaptações do seu contemporâneo revolucionário, Alan Moore. Enquanto que Miller ainda tem, apesar de tudo, este menos conseguido mas divertido Sin City - A Dame to Kill For, Moore ainda se lembra de From Hell e League od Extraordinary Gentlemen.
Parece que estamos a assistir a um final de ciclo. Este ano os filmes de BD começaram a dar os primeiros sinais de fadiga com o segundo Homem-Aranha e este Sin City que, nos EUA, foi um gigantesco fracasso. O que o futuro trará logo se vê, mas, por enquanto, o filme baseado em BD não tem perspectivas de abrandar, tendo em conta o que aí vem nos próximos anos. Mas em 2014 fizemos a última visita à cidade do pecado.
Sem comentários:
Enviar um comentário