Coleção Levoir/Público Marvel 2014 – 6.º Volume: Homem de Ferro

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)

Grau de acessibilidade: Fácil.

Sai amanhã, Quinta-feira, dia 14 de Agosto, junto com Público e custa 8,9€

Para mim nunca foi fácil gostar do Homem de Ferro. Acompanhei várias das histórias do personagem mas sempre com um certo distanciamento. Gostava do trabalho dos artistas mas pouco me relacionava com o protagonista. Devo confessar que isso, até hoje, continua igual. As histórias que mais me interessaram foram, por exemplo, as do recente trabalho de Matt Fraction e Salvador Larroca (sobre a qual já aqui escrevi), o de Warren Ellis e Adi Granov (publicada na anterior coleção da Levoir dedicada à Marvel) ou o de John Byrne e John Romita JR que, recentemente, teve um volume da Epic Collection a si dedicado. E, claro, existe o que é agora publicado pela Levoir neste 6.º volume da coleção 2014 dedicada à Marvel.

O conjunto de histórias incluídas neste volume ficou conhecido como “Demon in a bottle”. Publicadas em 1979, escritas por David Michelinie e desenhadas por John Romita JR, representam um daqueles momentos na Marvel dos finais da década de 70, princípios de 80, em que a editora não se recusava a arriscar material diferente e “mais adulto”. Estávamos no final de uma época que, para os EUA, foi marcada pela destruição de ídolos e de uma certa inocência. Uma década onde os EUA tinham perdido uma guerra e um Presidente. Os heróis tinham pés de barro. Existia a predisposição para tirar os super-heróis do casulo em que os haviam colocado, começar a tirar as camadas de uniforme colorido e ver o tom de pele bem humano. O que Michelinie e Romita fizeram parece pouco arriscado aos olhos de hoje, mas a BD americana mainstream muito dificilmente revelava uma faceta tão negra de um dos seus mais conhecidos personagens: o alcoolismo. Apesar dos vilões serem uma presença obrigatória na história, o verdadeiro inimigo de Tony Stark é ele próprio, a sua personalidade e o seu vício. Quando li estas histórias alguns anos mais tarde nas versões da Editora Abril, o personagem Homem de Ferro nunca me tinha parecido tão interessante e imagino que para muitos outros que, como eu, pouco se identificavam com o magnata super-herói, o mesmo tenha acontecido. Ainda que tivesse lido anteriores trabalhos com o alter-ego de Tony Stark, foi este aquele que mais me informou acerca do mesmo e aquele sobre o qual tem sido erigida a sua mitologia, para o bem e para o mal.

Todos os trabalhos que se lhe seguiram, de uma forma ou de outra, muito devem ao que Michelinie e Romita aqui fizeram, não tanto pelo conteúdo mas mais por terem revelado o potencial e a forma deste personagem. Recentemente, não só na BD (com a crescente importância advinda de histórias como Civil War, por exemplo) como, claro, no cinema, Tony Stark é, ironicamente, um dos porta-estandartes da Marvel, um dos mais conhecidos no mundo inteiro. Isto deve-se não só ao referido filme, ao trabalho de Robert Downey JR mas também a este pequeno conjunto de histórias, escritas há mais de 30 anos, que revelaram ao mundo (mesmo aos que pouco gostam dele) quem é Tony Stark. Por isso e pela sua qualidade, este é dos mais interessantes e imprescindíveis volumes desta coleção.

Nota final – Eu não partilho da opinião que se tem de saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.


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