A primeira coisa que me intrigou neste
filme foi como é possível conseguir levar a lancheira certa às pessoas certas. Acontece que é esse o tema de todo o filme.
A história é mais ou menos assim.
Uma mulher procura reconquistar o seu marido pela boca. Prepara o almoço com
requinte, com a ajuda da sua experiente tia e coloca-o numa lancheira. A dita lancheira
é encaminhada pelas caóticas ruas de uma cidade da Índia, por meio de vários intermediários, num
exemplo sublime de organização logística. Contudo, a intriga de que vos falei continua: como é possível a refeição correta chegar à pessoa correta?
Pergunta feita, resposta dada: neste caso em particular, não chega. Chega antes
a um viúvo, à beira da reforma, que, mesmo que surpreendido pelo lauto repasto
(há muito que não dizia esta frase), delicia-se com o mesmo, lambendo dedos e
panela, não restando nada. A conquista pela boca começa, apenas não a do marido. Começa uma troca de cartas, colocadas junto com o nan ou com a panela vazia, uma troca entre um homem e mulher sós.
Que delícia de filme. Que doçura.
Como é possível alguém sair deste sem um sorriso nos lábios, um quente no corpo
ou mesmo uma lágrima? Este amor cresce pela palavra e pelo sabor, sem necessidade
de um futuro, apenas a premência de viver, não passar pelo tempo como se fossemos
nada, não fizéssemos sentido. É difícil falar sem cair na lamechice, naquilo
que tantos cínicos têm dificuldade em aceitar. Não porque não sentem, apenas porque
não sentem assim. É mesmo muito difícil não ser foleiro. Mas assumo com
palavras claras: adorei o filme. É belo. É doce. É lamechas. É tão bom. Qualquer
outra palavra não lhe faz justiça. Vejam.
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