As críticas em relação a este volume de histórias eram boas demais
para eu as descurar. Fiquei particularmente curioso quando se afirma que o que
Lemire e Sorrentino estavam a fazer se assemelhava (em forma) a trabalhos iconográficos
como os de Frank Miller no Demolidor.
Este primeiro volume coleciona uma quantidade apreciável de números da revista
mensal que conta as aventuras do famoso Oliver Queen e do seu alter-ego super-heroístico,
o Green Arrow. Mas o que é que distingue
estas histórias de outras para que recebam tão rasgados elogios? Na minha opinião,
duas coisas: Lemire reinventa de raiz a mitologia do personagem (daí as
semelhanças com Miller); Sorrentino é uma desenhista e contadora de histórias
superlativa.
Nunca fui o maior apreciador do arqueiro esmeralda. Colecionei
algumas das histórias mais iconográficas, como as de Mike Grell e de Kevin
Smith, mas a maior parte da minha exposição ao personagem advém da participação
do mesmo na Liga da Justiça e na
impressionantemente boa série de TV que protagoniza (para quem não sabe, Arrow). Esta reinvenção do personagem no
contexto do universo DC Novo 52 tinha acompanhado apenas na revista Justice League of America (Novo 52 é o
nome que o novo universo DC tem desde que foi reiniciado do zero em 2011). Confesso
que me tinha sabido a “mais do mesmo”.
O nome Lemire, por seu lado, não o afasto à partida. Respeito
o trabalho deste senhor desde que li Sweet
Tooth, The Nobody e a versão Novo
52 de Animal Man. Portanto, fiquei
curioso quando tantos elogios eram direcionados para este novo trabalho. Foi
uma bela surpresa, não tão grande quanto esperaria tendo em consideração o pedigree com que era comparado. Lemire
pega em tudo o que faz o personagem e a mitologia funcionarem, destrói o supérfluo
e introduz ou reintroduz temas, locais e personagens que fazem sentido à essência
do mesmo. O escritor chega mesmo a introduzir elementos da série de TV sem contudo
parecer “vendido”. Esta fórmula não é nova no mundo dos super-heróis mas,
quando bem executada como aqui o é, funciona e reintroduz surpresa no prazer da
leitura (vejam o trabalho de Jim Starlin em Warlock
na década de 70, Alan Moore em Swamp Thing na de 80 e o já referido Miller). Por outro lado, existe o brilhante trabalho
de Sorrentino, que constrói páginas de beleza estética e narrativa como muito
dificilmente se encontra nos super-heróis. Nada aqui é convencional mas antes imbuído
de fluidez narrativa e toneladas de inovação. Pitadas de surrealismo alucinogénio
reforçam determinados momentos da história, ao mesmo tempo que o ambiente noir e urbano-depressivo são bem
aproveitados pela desenhista para construir um quadro negro e empolgante. Em
suma, leitura recomendada (ainda que não tão inovadora quanto mo venderam).
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