Este artigo foi originalmente publicado em 2013 no site da revista Maxim e procurava preparar os leitores para a saída da segunda parte da segunda trilogia de filmes dos X-Men, filme que saiu esta semana pelo mundo inteiro. Já vi o filme e muito em breve escrevo, a quem interessar, sobre o mesmo. Mas, como o que interessa mesmo é irem ver o filme, acho que se lerem este post podem ficar melhor preparados para ele.
Em 1981 foi previsto que 2013 seria o ano da morte dos X-Men, a famosa equipa de super-heróis
da editora de BD americana, a Marvel.
Todos eles mutantes que, segundo este universo ficcional, são o passo seguinte na
evolução da humanidade, seriam exterminados num momento da história em nada
diferente do Holocausto. A equipa estava no auge da popularidade, totalmente
por culpa de dois artistas, Chris
Claremont (escritor) e John Byrne (escritor
e desenhista), que desde 1975 e 1977, respectivamente, produziam histórias que viriam
a ser consideradas um marco, não só pela qualidade da colaboração, mas também
por apresentarem alguns dos momentos mais relevantes, icónicos e
transformadores da BD americana.
A parelha tinha acabado de sair de um desses momentos, ao produzir uma
das suas mais importantes histórias, em que haviam sido forçados a matar um relevante
personagem dos X-Men na intitulada “Saga da Fênix Negra” (publicada no ano
passado em Portugal numa edição mais do que recomendável da Levoir-Público). O que poderia ser visto
por qualquer outro como um apropriado canto do cisne, na realidade serviu como
acha para uma fogueira que arderia ainda por mais alguns meses. Nasceria Days of Future Past.
O enredo à data era algo de particularmente inovador na BD americana. Durante
dois números mensais, os 141 e 142 da revista Uncanny X-Men, a equipa dividiu o protagonismo das páginas da revista
com uma sua versão futura. Daí a 30 anos, o governo norte-americano havia aprovado
uma lei que bania a existência dos chamados mutantes, os homo superior, relegando-os a um papel de párias, perseguidos por
todos em geral e por gigantescos robôs sentinelas em particular, caçadores
implacáveis e velhos inimigos dos X-Men.
Aquilo que representavam, as minorias, a luta pela afirmação da diferença, os
direitos dos excluídos, era sublinhado e hiperbolizado, ao comparar a sua luta
com o sofrimento infligido a tantos outros ao longo da História da humanidade. Comparava-os
à perseguição e purga que havia sido sanguinariamente perpetrada a tantos outros
no passado. Depois de caçados como sub-humanos, eram atirados para campos de
concentração, forçados a viver em condições que espelhavam o racismo e desprezo
que inspiravam nos seus semelhantes. Deste futuro distópico é trazida para o
presente a mente de um dos X-Men, que
tenta usar o seu corpo de 1981 para impedir que aquele 2013 tenha lugar.
A luta no presente adquiria um peso diferente. Os X-Men não lutavam apenas contra o vilão do momento ou o inimigo
figadal, lutavam pelo futuro da sua raça, um futuro que se desenhava negro, o
reflexo distorcido do sonho que os havia inspirado a unir-se, o da irmandade entre
todos os homens. Este conflito era genialmente sublinhado pelos criadores, ao
forçarem no presente de 1981 um combate tipicamente “super-heróico”, mas desta
feita contra um grupo de mutantes terroristas que, não acreditando na filosofia
pacifista dos X-Men, procuravam uma defesa
mais militarista dos direitos que acreditavam ser seus. Deste modo, os protagonistas
são colocados numa área cinzenta de moralidade, fornecendo diferentes pontos de
vista e aproximações a um mesmo problema. A conclusão, à data, foi
particularmente dura e surpreendente, porque as versões dos X-Men de 2013 sofriam um destino nada
risonho. A luta dos principais personagens assumia-se, uma vez mais, como
multidimensional e facetada. O futuro era verdadeiramente trágico e nessa
dimensão Chris Claremont e John Byrne saíam vitoriosos e
inovadores. Os X-Men assumiam-se como
personagens de uma tragédia clássica, em que o destino inexoravelmente os
dirigia para um fim negro, apesar de todos os esforços, apesar de todos os
sacrifícios.
A próxima iteração dos X-Men
no cinema, a sair em 2014 pela mão de Bryan
Singer, vai exactamente adaptar esta história mítica. X-Men: First Class II, que terá como actores Michael Fassbender, Jennifer Lawrence e James McAvoy, vai receber a
visita dos X-Men da primeira versão
em cinema, estando já confirmados para o futuro distópico a presença de Hugh Jackman como Wolverine e Ian McKellen
como Magneto.
Felizmente, esta BD vai muito em breve ser publicada em Portugal, tendo como verdade os rumores que andam pela net de que a Levoir/Público vão lançar uma nova coleção de livros, estando esta histórias nela incluída.
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