Todas as semanas estreiam 10 filmes que temos mesmo que ver. Todas as semanas são publicados 150 novos livros que temos mesmo que ler. Todas as semanas são editados 10 novos discos que temos mesmo que ouvir. Se juntarmos, a isto, o teatro, os jornais, a televisão, a internet, os blogs, os concertos, as viagens... Todas as semanas o Mundo nos bombardeia com uma quantidade de informação impossível de assimilar. E por assimilar, entenda-se o conhecer, o desfrutar e o digerir. Fico com a sensação de que, hoje, andamos a consumir (e é esta a palavra) cultura como se corrêssemos à chuva sem nos molharmos, de tão depressa que corremos.
Que palavra, que imagem, que assombro levaremos connosco de um filme?
Vem o desabafo aqui à baila, porque numa destas quintas-feiras, vimos o filme, de Mathieu Kassovitz, La Haine (O Ódio). Desde que o vi pela primeira vez, no ano da sua estreia que, trago comigo a pequena história do seu início:
"É a história de um homem que cai do 50º andar de um prédio
Enquanto cai, vai repetindo, para se acalmar: até aqui, tudo bem; até aqui tudo bem; até aqui tudo bem..."
Mas, como diz o narrador desta pequena história, "o importante não é a queda, é a aterragem! "
Tenho-me lembrado dela muitas vezes, a propósito da minha vida, da vida de outros, de Portugal e do Mundo. A queda pode ser longa e suave, mas a aterragem é inevitável.
A propósito, acabou, no dia 22 de Fevereiro, o ciclo de cinema na Cinemateca com o seguinte tema: “O lugar dos ricos e dos pobres no cinema e na arquitectura em Portugal”. Nos debates que se seguiram aos filmes, um dos assuntos mais discutidos foi o do papel do urbanismo e da arquitectura enquanto facilitadores das relações entre as pessoas.
No filme de Mathieu Kassovitz há muito mais do que urbanismo e arquitectura, mas o problema também passa por aí. Que esperamos nós que cresça nos bairros sociais cinzentos e sem humanidade? Para lá da óbvia responsabilidade dos políticos, que responsabilidades têm os urbanistas e os arquitectos que planearam estes bairros em Paris ou em Lisboa? Que responsabilidades temos nós, cidadãos, que vamos dizendo para nós próprios que, “até agora tudo bem”, porque continuamos, a poder viver as nossas vidas, sem intervirmos civicamente no desenvolvimento das nossas cidades?
La Haine, estreado em 1995, teve o mérito de alertar para o problema da violência que vai crescendo nas periferias das grandes cidades. Acontecimentos bem recentes, nos subúrbios de Paris, vieram recordar-nos que o filme continua actual e que a aterragem pode ser difícil.
Apertem os cintos!
1 comentário:
um filme que antevia os problemas que iriam surghir no inicio do seculo seguinte na zona sub urbana das grandes cidades e que infelizmente se tem vindo a alastrar para a nossa praia lusitana. vou colocar a tua recensão no meu blog se nao te importares. mas estará devidamente identificada, não serácomoo blog do outr senhor. leva 7 o filme, como diz o marcello: vi e gostei! cumpz
Enviar um comentário