Quando acabo de ler um livro, devo dessacralizá-lo. Devo emprestá-lo a quem também o irá ler, ao seu ritmo, dobrando-o, enchendo-o de areia ou da luz do sol, até que amarele. É para isso que ele serve. Para espalhar conhecimento, vozes, vistas, até que as palavras desapareçam com a luz do sol. 


Estou cansado de uma certa sacralização coleccionista do livro, que o impede de ser aquilo que ele tem de ser: livre nos olhos, nas bocas e nas imaginações dos seus muitos leitores. Deixem que eles saiam das vossas mãos, deixem de ser seus únicos e dignos detentores, e espalhem-nos pelos bancos dos jardins, pelas defuntas cabines telefónicas. Deixem os livros serem livres. Não os prendam.

Os mais belos livros, aqueles que nos dão mais prazer, devem ser aqueles que mais depressa e com mais afinco devemos libertar. Alguém dizia, que se o amas, liberta-o. Acho que foi o Sting. E ele tem razão. Deixem de idolatrar o livro de capa dura, papel forrado a palavras de ouro, e entreguem-se ao papel de jornal, à capa de cartão. O livro deve ser barato, gratuito, mesmo que tenha custado os olhos da cara. O livro é de todos. Deixem as páginas dos livros amarelecer com os muitos dias de leitura ao sol. 

(Este texto foi escrito por alguém que é um colecionador obsessivo de livros - também se poderia dizer acumulador)

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