Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...


Por cada ano que passa, e aproximo-me daquele momento em que passam a olhar para nós como “velho”, penso mais no Alberto Caeiro e no seu Guardador de Rebanhos, tão bem exemplificado neste poema. Há dias em que estou cansado de símbolos, de alegorias e de metáforas. As palavras com que procuramos descrever o mundo são-me cada vez mais incompletas e imperfeitas para essa função (alguma vez o foram?). Atropelamos a verdadeira intenção com termos incorrectos, inapropriados, que ofendem, que geram incompreensão e discussão. E falo quer da palavra escrita, quer da falada. 

Outro poeta escreveu, famosamente, “a rose by any other name would smell as sweet?”. A rosa, o pássaro, o tigre, estão-se nas tintas para o que escolhemos como seu nome, estão-se nas tintas para se lhe atribuímos significado de amor, liberdade e força. Na simplicidade de serem o que são, sem pensar muito nisso, existem na mais bela perfeição. Não atropelam o seu dia-a-dia, a fome, a sede, o andar, o bocejar, com pensamentos grávidos de significado e dupla intenção. Não escrevem livros. Preferem as árvores de que são feitos.

É por isso que cada vez mais adoro Caeiro. O Mundo não foi feito para pensarmos sobre ele. A sequência de momentos que o criam contribuíram apenas para que o observássemos na sua terrível beleza ou no seu belo terror. – e lá estou a classificá-lo. Não! Errado! Quero olhar para o mundo e só fazer isso. Olhar sem palavras. Não dizer se é belo ou feio, atemorizante ou apaziguador. Ele não foi feito para a minha classificação. Eu não fui feito para o classificar. Esqueçam os símbolos. O que está à nossa frente é apenas um Mundo Inteiro. Não é demais. É tudo.

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