Porque é a Casa tão importante? Não falo da Casa onde moramos. Falo da Casa onde habitamos. Uns ficam contentes por estar num espaço de 40 a 80 m2, ou maior, e outros só estão bem na Rua, na Estrada, em Viagem. Uns estão contentes em ver o mundo da sua janela, das imediações onde moram, e outros querem sair, estar sempre fora, a ver isto e a ver aquilo.
Quando penso nisto, lembro-me do poema de Alberto Caeiro: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo.../ Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer / Porque eu sou do tamanho do que vejo/ E não do tamanho da minha altura...”. Á primeira leitura, pareço estar a usar palavras melhores que as minhas para um elogio aos que ficam por Casa, mas não vejo este poema apenas assim – deve estar errado neste pensamento, mas ainda assim prossigo. Caeiro fala da amplitude da visão, independentemente do horizonte que os nossos olhos alcançam. Não precisamos de ir às antípodas de onde vivemos para ter noção do perímetro da Terra. O mundo que vemos depende apenas de nós e não dos nossos olhos.
Convém confessar-me. Eu sou dos que “só estão bem na Rua, na Estrada, em Viagem”. As paredes da casa barram-me a visão. Sofro de uma forma ridiculamente leve de claustrofobia, o que nestes tempos de pandemia é uma pequena chatice. Neste momento escrevo na rua, e os barulhos dos outros não me impendem o pensamento, estimulam-no. Quero ouvir tudo e todos enquanto escrevo sobre mim, porque aprendo tanto de mim nos outros quanto a olhar para as quatro paredes da minha cabeça. Lá dentro só estou eu e eu tenho um número limitado de opiniões, conhecimentos e visões. Quero saber de todos um pouco. Quero essa Liberdade. E é por isso que Caeiro gostava da sua aldeia.

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