Blankets de Craig Thompson é daquelas obras que marcam a maioria dos seus leitores. Sem querer parecer pedante, ouvi falar dela, pela primeira vez, em entrevistas que fiz a vários profissionais da BD, uma delas Melinda Gebbie, num Amadora BD deste início de século (para quem não sabe, Gebbie é a ilustradora do Lost Girls de Alan Moore, e a sua esposa desde 2007). Todos, sem excepção, sem qualquer tipo de pressão da minha parte ou pergunta que aludisse a isso, fizeram questão de sublinhar a excelência deste trabalho. Fiquei surpreendido pela unanimidade e não resisti a ir comprar imediatamente (estávamos em 2003). Foi uma revelação gigante. Este livro continua a inspirar, anos depois de o ter lido, e é daquelas obras de BD que os apreciadores da Arte não têm vergonha em prontamente sugerir a quem quer tenha um coração romântico.
Mas porquê tantos elogios?
CraigThompson é um homem de coragem. Digo-o porque teve a força de expor, com honestidade (algo tão difícil para tantos de nós), a sua intimidade, a sua vida e as suas experiências.
Blankets retrata, com essa desconcertante honestidade - e com arrebatadora beleza - os seus primeiros 20 e tal anos de vida. Anos passados enquanto filho de pais religiosos e enquanto adolescente, em quem os primeiros sentimentos de amor despertam e nele jorram um dia-a-dia cheio de esperança, novidade e, derradeira e inevitavelmente, desalento. Um amor tão pleno que apenas pode brotar da mente de alguém tão novo e ainda tão cheio de vida.
O mais incrível com que Craig Thompson nos presenteia é a sua mestria na arte de fazer uma arte, neste caso a BD. A narrativa é feita com um profundo conhecimento das potencialidades da Arte, ao mesmo tempo que a puxa, estica e deforma e dá lugar a novas linguagens que não negam a original, mas melhoram-na e aprofundam-na. Em Craig Thompson existe, de facto, uma profunda simbiose entre a narrativa e a imagem. A história avança, desliza e paira com o poder das imagens, que transmitem pensamentos, acções e sentimentos como poucos autores desta Arte o conseguem fazer.
Apenas posso esperar que a Raina de Thompson tenha lido este seu elogio e se tenha deliciado com a honestidade e beleza deste livro da mesma maneira que muitos dos seus leitores.
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