O novo filme de Naomi Kawase, depois de A Pastelaria de Tóquio, volta a envolver os protagonistas num dos sentidos do ser humano, neste caso a visão (A Pastelaria focava-se, obviamente, no paladar).
A jovem Misako tem uma profissão sui generis: descreve filmes para cegos. Na procura da melhor forma de veicular o conteúdo e sentido do filme ao público, faz parte de grupos-alvo que a ouvem e depois criticam, elogiam ou sugerem alterações. Dentre esse público está Nakamori, ex-fotógrafo, que perdeu quase completamente a visão e que está ainda a adaptar-se à nova realidade. Essa adaptação faz-se com dificuldade e rispidez, o que provoca alguma tensão com a jovem. Dessa tensão nascerá uma relação e uma reflexão da realizadora acerca da cegueira e da Arte - quer da 7.ª quer da Literatura (ou pelo menos, este vosso que escreve assim o interpretou).
À semelhança do filme anterior, Naomi prefere a singeleza e delicadeza ao abordar este novo tema. A câmara demora-se no rosto dos protagonistas, como se procurasse mimetizar a intenção de ouvir e perceber com atenção cada pormenor. Essa atenção desmesurada ao sujeito talvez procure dar uma impressão do que significa ser cego, contudo, por vezes, esse exagero de close-ups dificulta o fluir da história e esforça a atenção do espectador. Mas a realizadora vai compensando com personagens e situações únicas, que nos vão levando por situações originais e raramente mostradas no grande ecrã. Nessa originalidade reside algum do encanto deste Esplendor, um filme lento, reflexivo e muito japonês.
Todo o filme é um esforço de realizador, não só pelos enquadramentos e velocidade, mas pela paleta de cores, pela focagem, pela luminescência e luminosidade, que fazem lembrar Rinko Kawauchi, uma conhecida fotógrafa japonesa. Não será tanto uma alusão ao trabalho desta última, mas parte da uma certa forma nipónica de ver o mundo. Através do esplendor da luz difusa.
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